segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Raposódia boémia

Da necessidade do sal


O processo "face oculta" tem dominado as notícias, e os "mentideros" nas últimas semanas. Mais uma vez, a justiça anda nas bocas do mundo. Regressaram as insinuações de a mão da justiça seria conduzia por ínvios interesses, cujo propósito último visaria atingir figuras do Estado... ora, eis senão quando, um dos nomes mais badalados deste processo vem confessar que recebeu "uma caixinha de robalos". Realmente, esta questão das sucatas cheirava mal desde o início. Está explicado: robalo foi deixado sem sal e, corrompeu-se...

Já Vieira, o visonário e grandiloquente pregador jesuíta, proclamara no seu sermão de Santo António aos Peixes que, "o sal como vós [peixes], tem duas propriedades, [...]: conservar o são e preservá-lo para que não se corrompa." Poderíamos nós, hoje, volvidos que são quatrocentos anos, reler o seu sermão à luz da actualidade? Digamos que a Justiça dos Homens procura separar os bons, dos maus peixes, louvando nuns as virtudes e noutros os vícios. E se isso fosse feito assim, em que cesta caberia o robalo, o singelo robalinho?
Vejamos o que diz a sempre prestável e sapiente wickipedia:
"Alimentam-se de pequenos peixes e crustáceos, especialmente camarões e caranguejos.
Gostam de águas calmas, barrentas e sombreadas, e ficam próximos ao fundo."
Ora, nem mais. Era o que já se desconfiava!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Das qualidades da água



Já conhecíamos a água gaseificada mas, no Seixal, temos também água "polvorizada". Esta é a preocupante conclusão de um trabalho realizado por investigadores suíços e portugueses sobre a qualidade da água nos aquíferos situados na área envolvente da antiga fábrica da Pólvora. As conclusões não animadoras, embora os responsáveis da câmara, fiéis ao seu estilo de "tudo vai bem, no melhor dos concelhos possíveis", se tenham apressado a desvalorizar ...
"[...] The groundwater residence times were distinctly different in the two aerobic aquifers, as determined by the tritium (3H)–3He method. In the contaminated zones, the upper aquifer exhibited groundwater ages of 25 years, whereas the lower (presumably confined) aquifer contained hardly any tritium which indicates water ages >55 years. P-NACs-containing waste waters are known to have leaked into the upper, unconfined aquifer. However, P-NACs were present in both aquifers in high concentrations (up to 33 000 μg L−1 TNT), which implies a hydraulic connection, although tritium concentrations and chemical data suggest two separated aquifers. Based on the 3H–3He groundwater dating and the presence of very high P-NAC concentrations, the contamination of the lower aquifer must have happened during the early stage of the explosive production, i.e. >50 years ago. Despite this ‘old’ contamination, TNT and DNT have not been transformed until to date as is demonstrated by the negligible changes in their carbon isotopic signatures (δ13C). Thus, P-NACs are very recalcitrant to degradation at the investigated site. If the aquifers remain aerobic, TNT and DNT are expected to persist in the subsurface for many decades to centuries.
[...]"

domingo, 22 de novembro de 2009

Contos de fadas e outras lérias

(clique na imagem para jogar)
Num sonolento domingo de manhã, um bom conto de fadas pode ter o condão de nos despertar para a realidade envolvente.
De facto, os contos de fadas alertam-nos para a realidade que se esconde por detrás da aparência, para os perigos escondidos. Não raro, as bruxas são fadas caídas nas teias do "mal", espécie de madrastas que conservam a sua maviosa aparência mas, que transportam no seu coração a corrupção inerente ao "mal", enganando tudo e todos à sua volta para cumprirem obscuros desígnios de poder...
Por vezes, é difícil saber até que ponto realidade e ficção se misturam de tal forma a trama parece repetir-se e emitar-se. Digamos que tudo o que tem vindo a lume, no caldeirão das notícias dos últimos meses, poderia ser obra de um pouco talentoso escritor de contos fantásticos. Superfícies cristalinas que ocultam faces mui obscuras. Jornais independentes que afinal seriam manipuláveis pelos cordões da "bolsa". Concursos públicos, que por encanto (certamente), se ganham... poções de esquecimento para as dívidas fiscais... o uso, e porventura o abuso, dessa espécie de bola de cristal vulgarmente, conhecida pelos muggles, como "escutas"... Animais políticos que ora serpenteiam entre as salamandras, ora se confundem com morcegos nos corredores do poder... uma justiça que parece crescentemente enleada na floresta das contradições e dos enganos...
Não sei de ciência certa se existem bruxas mas, não há dúvida de que é necessária uma varinha mágica, ou pelo menos, uma vassourada...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Crescimento ... anémico


"Growth resumed in the second quarter of 2009, but will remain subdued as private sector deleveraging constrains the recovery. As a result, unemployment is likely to increase to around 10% in 2010. The budget deficit is set to rise further in 2010 and 2011, following a substantial increase in 2009 due to the combined impact of the fiscal stimulus and the recession. Core inflation, after dropping to near zero, may increase rather slowly over the projection period.
Despite anaemic growth, designing and gradually implementing fiscal consolidation is a major priority. Structural reforms to promote competitiveness are key to achieving higher growth through more dynamic exports, while the pursuit of education reform should help foster longer-term potential."

Conclusão do relatório da OCDE sobre Portugal

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Berlim, Lisboa - vinte anos depois

via, Der Spiegel
Passaram 20 anos desde que em Berlim desabou o "muro" e com ele uma Europa partida ao meio. Temos, hoje, uma Europa diferente. O impensável aconteceu os países do COMECON e do Pacto de Varsóvia tornaram membros da União Europeia e até da NATO. Vinte anos depois a Europa prepara-se para implementar no terreno o Tratado de Lisboa, prepara-se para escolher o seu presidente. Muita coisa mudou em duas décadas e muitos desafios nos esperam mas, "o caminho faz-se caminhando" e a queda do "muro" foi um passo de gigante em direcção a um futuro que todos pretendemos melhor.
E, sim, a Europa continua desigual, e em alguns países a corrupção grassa, a xenofobia e as tentações totalitárias não abandonaram o Velho Continente. Em alguns países, existe mesmo um saudosismo relativamente ao passado - não é só em Portugal que a precária segurança do salazarismo exerce fascínio sobre algumas camadas da população -, um passado que a todos assegurava um nível de "penúria garantida" dentro dos limites do espartilho socialista. A Europa, não é o El Dorado e, a incerteza que a construção europeia tem para oferecer é motivo de desorientação. Tudo razões para nos empenharmos na construção de uma Europa mais coesa, mais social, mais "verde".

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Berlim, Lisboa vinte anos depois (1)


O muro, o grande e intransponível muro símbolo da Guerra Fria e da desunião da Europa caiu, há vinte anos.

Passaram-se pois, vinte anos sobre o impensável. Caiu o muro e, como um castelo de cartas, uma após outra, desmuronou-se um império construído sobre uma ideologia com pés de barro e contra a vontade dos povos.

Uma Europa, dois mundos diferentes. Lembro-me do dia em que transpus o muro para o lado de lá. Para o Leste em direcção à sinistra capital do Império. O contraste entre o buliço de Berlim (RFA) e o silêncio das ruas de Berlim (RDA). Parecia que estava a viajar no tempo. As casas, as ruas, os automóveis, as roupas -que me lembravam as que anos antes tinham sido "moda"... Era a única passageira de uma carruagem de combóio mas, nem por isso dispensaram o aparato intimidante de soldados, metralhadoras e cães. Estávamos em 1985, o muro ainda estava de pé.

Deixei uma sociedade de consumo, cheia de desigualdades e contradições, onde os povos eram livres de escolher o seu rumo e, "aterrei" numa sociedade de penúria quase generalizada onde qualquer veleidade de escapar "à massa" informe do socialismo e escolher um caminho próprio era olhada com a intolerância com que se olham os traidores.

A oeste uma sociedade de informação que tinha como regra a liberdade de expressão. A leste, uma sociedade que controlava e instrumentalizava sistematicamente a informação. Nem assim, utilizando os métodos que inspiraram Orwell, lograram granjear o "apoio popular". Finalmente, o vazio sobre o qual se alicerçou o império soçobrou arrastando consigo o temível muro.

Quem via as manifestações que enchiam as praças em alegres vivas à nomenklatura dificilmente poderia prever o final... As manifestações de apoio são o que são. Valem o que valem. As manifestações de apoio ao totalitarismo são, de facto, resultado do medo colectivo de ser preso, de desaparecer, de ser impedido de estudar ou trabalhar, medo de ser preterido na escolha do almejado automóvel ou apartamento ...medo. (cont.)