segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Seixal Virtual - Seixal Real (2)

Em concelhos como o Seixal em que o partido comunista se instalou no poder local temos um curioso misto de concepções arquitectónicas do realismo socialista e, de cedências aos interesses imobiliários e especulativos. Assim, em lugar da planificação e homogenização, características de cidades como Nova Huta, temos cidades que cresceram ao sabor do mercado imobiliário, por vezes até na clandestinidade, sem centralidades. O que sobra, da arquitectura socialista, é uma certa concepção de cidade-jardim patente nas amostras do Parque Urbano da Paivas ou do passeio ribeirinho : espaços relvados, perfeitamente definidos, e que reflectem uma vontade de dominar a natureza através de uma selecção (restritiva) de espécimes vegetais e de um mobiliário urbano moderno. Estes espaços valem, sobretudo, pela sua fotogenia.




Incapazes de aplicar na prática a « arquitectura socialista » procuram-se, para as fotografias, espaços perfeitamente localizados que de algum modo correspondam a esse ideal estético : transmitir o poder e a persistência do trabalho autárquico e determinar a consciência colectiva das massas (mesmo que para isso se tenham de abandonar ou derrubar construções que não se enquadram no padrão da ordem social que se pretende criar). O reduzido número de locais onde é possível encontrar estes elementos explica a sucessão de imagens tiradas sempre nos mesmos locais em perspectivas ligeiramente diferentes.
Mais uma vez, o fascínio pelo « urbano » enquanto espaço moderno e progressista leva ao desprezo pela natureza e, por tudo, o que seja entendido como fazendo parte da « velha ordem».

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