O maior inquérito realizado nos últimos 40 anos sobre o ensino básico em Inglaterra concluiu que o controle centralizado das escolas teve um efeito devastador na educação das crianças. As directivas ministeriais impediram os professores de agirem espontaneamente e daí resultou um declínio da qualidade de ensino. Teria sido melhor, concluiu a Universidade de Cambridge, deixar tudo como estava em vez de se terem implementado as políticas Trabalhistas.
Os quatro relatórios publicados hoje (29 de Fevereiro) são os últimos de uma série de 18 que retratam um quadro preocupante de interferência na sala de aulas através da obsessão de testar e do desejo de ditar minuciosamente as práticas lectivas.
O que estes relatórios dizem é que a influência estatal na sala de aulas tem aumentado desde 1997 de tal forma que as escolas básicas estão agora sujeitas a uma “teoria estatal do ensino” em que os professores têm que leccionar os programas de acordo com métodos definidos superiormente pelo ministério (desde 2006).
A qualidade do ensino, em Inglaterra, diminuiu nos últimos 20 anos tendo-se os professores tornado numa espécie de “treinadores” para testes de aferição. As escolas devem estipular cinco horas semanais de actividades culturais, cinco horas de desporto, e incluir clubes de tempos livres. Contudo, a lição que se retira do último relatório é que a escola precisa de menos interferências e mais autonomia.
Em resultado de tudo isto, um dos relatórios conclui que a interacção entre professores e alunos foi negativamente afectada por uma política que centralmente decidiu como os professores devem ensinar (inglês e matemática). Os professores perderam a capacidade de iniciativa agora, tendo passado toda a capacidade de iniciativa para Whitehall.
A introdução do ranking das escolas e de testes de aferição nas disciplinas de língua materna (inglês) e matemática levou a um “estreitamento” do curriculum pois as escolas apostam mais nestas áreas em detrimento de outras igualmente importantes, como as ciências.
Nos últimos anos tem havido melhores resultados nas provas de aferição de matemática e língua materna mas isso só acontecerá porque no inicio os professores não sabiam preparar os alunos para estas provas mas, têm vindo a aperfeiçoar as suas competências no treino para estas provas, ou seja, a melhoria dos resultados não espelha uma melhoria efectiva da qualidade do processo de ensino-aprendizagem.
Num momento em que em Portugal tanto se fala da educação é curioso verificar que lá, como cá, a falta de confiança no trabalho dos professores, a vontade de controlar o curriculum e as aprendizagens e, ainda, o sub-financiamento da educação podem levar à obtenção de resultados inversos àqueles que se pretendem atingir e a um empobrecimento da qualidade da educação. Lá como cá, o governo procura seguir a sua política indiferente a críticas prosseguindo objectivos que mais do que a melhoria da Educação visam a melhoria das estatísticas sobre a educação.
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Ver artigos do The Independent ; The Guardian
Ver também post de Pedro Barroso no Sorumbático