Imagino-me a escrever sobre as mortes anunciadas de muitos lugares históricos e naturais destes concelho. Alguns desses lugares já estão “mortos e enterrados”, outros vegetam aguardando que o tempo faça o seu trabalho para depois, o camartelo poder intervir sem escândalo público.
A intelligentsia local pretende promover o concelho através de um circuito turístico “do trabalho”, ora, como sabemos nem todos os trabalhos são iguais, há uns mais iguais que outros.
Há locais e edifícios que estão ligados à história do trabalho sim, mas também à história do Partido Comunista esses são para preservar. Há outros que gozam desse privilégio dada a sua antiguidade e a sua localização ou ainda o seu carácter simbólico: proto-industrial (como se nos quisessem dizer que neste concelho já antes da industrialização se davam passos no sentido “certo”): é o caso do moinho de maré de Corroios e da olaria romana adjacente.
Mas falemos dos outros, dos excluídos. Esses regra geral não tiveram a sorte de ser “classificados pelo IPPAR” porque não foram propostos pela Câmara (outros mesmo classificados aguardam pacientemente a “sua hora”, entregues que estão ao abandono e ao vandalismo).
Serão de menor importância?
Porquê que a Fábrica dos Laníficios de Arrentela é menos importante que a Mundet? Porquê que os núcleos antigos de Amora, Arrentela, Seixal não foram propostos para classificação?
É certo que são considerados “imóveis de interesse municipal” mas na prática isso significa que pouco tem sido feito para a sua preservação não havendo em seu redor uma zona de protecção, que permita continuar a apreciar a moldura urbana original, pondo-a a salvo dos mamarrachos. Estas casas cuja degradação se arrasta em alguns casos há décadas são o que ainda resta do processo de industrialização do século XIX.
E as quintas? E a floresta? E as matas? A agricultura, a pecuária e a silvicultura não são merecedoras de figurarem neste circuito do trabalho? Parece que não. Este é o trabalho que não interessa à imagem pretendida. Este é o trabalho dos rendeiros, dos foreiros, dos camponeses e até dos escravos. Zés-ninguém que durante séculos se conformaram com a sua (pouca) sorte. Foram Zés-ninguém em vida e sê-lo-ão na morte pois serão apagados da história que deles nada rezará.
E os estaleiros onde durante centenas de anos foram construídos os barcos destinados à carreira das Índias, mas também à guerra, à pesca ao transporte de pessoas? E os portos e portinhos, também eles vestígio de uma época em que a principal atracção “desta banda” era a acessibilidade à capital através do rio?
Quando se trata de “trabalho” cheguei à conclusão que os critérios são rígidos: à imagem de “trabalho” pretende-se colar a imagem do partido comunista. De facto, fará sentido esta ideia de transformar o Seixal três dias por ano na Meca vermelha desperdiçando o resto do ano?
Os milhões gastos pela câmara do Seixal têm por base um critério nunca frontalmente assumido: a vontade política de preservação da Mundet e da Siderurgia deve-se à sua importância enquanto unidades de produção mas sobretudo, ao facto, de terem sido “viveiros” do Partido Comunista nos anos do Estado Novo.
A intelligentsia local pretende promover o concelho através de um circuito turístico “do trabalho”, ora, como sabemos nem todos os trabalhos são iguais, há uns mais iguais que outros.
Há locais e edifícios que estão ligados à história do trabalho sim, mas também à história do Partido Comunista esses são para preservar. Há outros que gozam desse privilégio dada a sua antiguidade e a sua localização ou ainda o seu carácter simbólico: proto-industrial (como se nos quisessem dizer que neste concelho já antes da industrialização se davam passos no sentido “certo”): é o caso do moinho de maré de Corroios e da olaria romana adjacente.
Mas falemos dos outros, dos excluídos. Esses regra geral não tiveram a sorte de ser “classificados pelo IPPAR” porque não foram propostos pela Câmara (outros mesmo classificados aguardam pacientemente a “sua hora”, entregues que estão ao abandono e ao vandalismo).
Serão de menor importância?
Porquê que a Fábrica dos Laníficios de Arrentela é menos importante que a Mundet? Porquê que os núcleos antigos de Amora, Arrentela, Seixal não foram propostos para classificação?
É certo que são considerados “imóveis de interesse municipal” mas na prática isso significa que pouco tem sido feito para a sua preservação não havendo em seu redor uma zona de protecção, que permita continuar a apreciar a moldura urbana original, pondo-a a salvo dos mamarrachos. Estas casas cuja degradação se arrasta em alguns casos há décadas são o que ainda resta do processo de industrialização do século XIX.
E as quintas? E a floresta? E as matas? A agricultura, a pecuária e a silvicultura não são merecedoras de figurarem neste circuito do trabalho? Parece que não. Este é o trabalho que não interessa à imagem pretendida. Este é o trabalho dos rendeiros, dos foreiros, dos camponeses e até dos escravos. Zés-ninguém que durante séculos se conformaram com a sua (pouca) sorte. Foram Zés-ninguém em vida e sê-lo-ão na morte pois serão apagados da história que deles nada rezará.
E os estaleiros onde durante centenas de anos foram construídos os barcos destinados à carreira das Índias, mas também à guerra, à pesca ao transporte de pessoas? E os portos e portinhos, também eles vestígio de uma época em que a principal atracção “desta banda” era a acessibilidade à capital através do rio?
Quando se trata de “trabalho” cheguei à conclusão que os critérios são rígidos: à imagem de “trabalho” pretende-se colar a imagem do partido comunista. De facto, fará sentido esta ideia de transformar o Seixal três dias por ano na Meca vermelha desperdiçando o resto do ano?
Os milhões gastos pela câmara do Seixal têm por base um critério nunca frontalmente assumido: a vontade política de preservação da Mundet e da Siderurgia deve-se à sua importância enquanto unidades de produção mas sobretudo, ao facto, de terem sido “viveiros” do Partido Comunista nos anos do Estado Novo.
6 comentários:
Bravo! Brilhante...Não tenho outros comentários que não a exclamação da bravura.
Parabéns, bem escrito, bem estruturado mas sobretudo é reflexo de uma brilhante linha de pensamento.
Um texto particularmente bem escrito que reflecte uma abundância de conhecimento de facto e de análise histórico-social de uma realidade que a propaganga tem vindo a tentar reescrever.
Farei, com a devida vénia, um link deste texto para o blog da JSD Seixal.
Cumprimentos,
Filipe de Arede Nunes
Não posso deixar de agradecer os comentários que aqui foram deixados e que naturalmente me inspiram a continuar a "pensar em voz alta".
HKT, um único pedido: Continue a pensar em voz alta. O Concelho agradece.
Obrigado
Os milhões gastos pela câmara do Seixal têm por base um critério nunca frontalmente assumido: a vontade política de preservação da Mundet e da Siderurgia deve-se à sua importância enquanto unidades de produção mas sobretudo, ao facto, de terem sido “viveiros” do Partido Comunista nos anos do Estado Novo
"Como é evidente!" diria Jorge Coelho - esse eloquente e presciente comentador, cronista dos dias presentes, ex-ministro...
subscrevo as palavras escritas do comentador anterior..."Continue a pensar em voz alta"
David Oliveira
Já sei o futuro nos reserva: vão propor como imóveis de interesse municipal as antigas instalações da C.M.S. no Fogueteiro, pela quantidade de achados propagandistas ai "achados". A sua análise é do domínio do óbvio... tão óbvio que ninguém pensaria que no pós 25 de Abril houvesse alguém tão dedicado a reduzir a história deste concelho à preservação dos viveiros(direi cada vez mais mausoléus) da coisa.
Avante...
Enviar um comentário