terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Crónica de uma Morte Anunciada, ou talvez não?

“Os ofícios ligados à construção de barcos não deveriam ser totalmente desconhecidos dos habitantes da região [Seixal], visto já existir ao que parece a modesta indústria da pesca o que […] exigiria a existência de algum pequeno estaleiro. Porém, as necessidades impostas pelas construções trouxeram certamente aqui artífices que o seu ofício ensinaram a muitos dos habitantes que primeiro se empregaram na execução de tarefas auxiliares.
[…]
Sobre este particular dizem os historiadores Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues: ‘ Vendo pessoas competentes que o sítio era azado [apropriado] para construções navais em grande escala e que estava em fácil comunicação com os operários da fábrica da Ribeira das Naus que estava estabelecida a E[ste], para o lado da vila de Coina, fundaram aqui alguns estabelecimentos dependentes do Arsenal da Marinha, e pouco a pouco os mestres e operários foram construindo casas de habitação’.
[…]
...o estaleiro da Fidalga, situado junto à Quinta de Vale de Grou ou da Fidalga que se julga ter pertencido a Estêvão da Gama, Vasco da Gama, Sebastião da Gama Lobo […] é tão antigo que não admira que tenha sido escolhido para construção de barcos para fidalgos e outros de maior porte para a marinha portuguesa.”

Manuel D’Oliveira Rebelo, Retalhos da Minha Terra, Seixal, 1959, pp.76 a 78.


É este patrinómio que poderemos estar a destruir irremediavelmente se prosseguir a demolição do estaleiro de alvenaria ali, entretanto, construído. Se esta informação estiver correcta, arriscamo-nos a perder os vestígios deste estaleiro quatrocentista (mais antigo?) em consequência da movimentação de terras. Se ali ainda existirem (no subsolo) vestígios deste estaleiro então estaremos a destruir um património único de grande importância para a história da construção naval, história local e, para a história dos Descobrimentos portugueses[1] sem que, pelo menos, se tivesse procedido ao levantamento arqueológico do local, e feito o adequado estudo e inventário.
Se assim for tratar-se-à de um crime de lesa património. Tenhamos esperança que o bom-senso prevaleça.
[1] Sobre este a assunto ver também Baía do Seixal , Revolta das Laranjas.



5 comentários:

Bluegrowth disse...

Os meus comentários não trarão mais valor acrescentado ao produto deste fabuloso trabalho que está a desenvolver.

Um agradecimento especial em http://baiadoseixal.blogspot.com.

Muito obrigado!

David R. Oliveira disse...

Desconhecia. A partir do seu comentário no "Pleitos..." cá vim ter e gostei. Linkado nos favoritos!para já. Parabéns e fico aguardando a sedimentação. Veio para ficar ou é apenas um lampejo?
Gostaria de trocar umas opiniões consigo.Vivi na Arrentela cinco anos.
David Oliveira
david49.seguros@sapo.pt

Paulo Edson Cunha disse...

Excelente, como sempre.

Vejam e comentem em
http://pauloedsonc.blogspot.com/
requerimento apresentado pelo deputado do PSD para Círculo de setúbal, sobre Sapal de Corroios

Anónimo disse...

BRILHANTE TRABALHO TENHA CORAGEM E CONTINUE COM DETERMINACAO

DESCULPE O ANONIMATO MAS SAIBA QUE O ADEMIRO, OBRIGADA

Helder Fráguas disse...

Parabéns por divulgar esta preocupante situação.
É a forma de fazer política que mais aprecio.