sábado, 2 de fevereiro de 2008

Palavras como Máscaras

“Por vezes as palavras devem servir para mascarar os factos. Mas isso deve suceder de forma a que ninguém perceba; no entanto, para o caso de alguém descobrir, devem ter-se as justificações necessárias prontas a ser exibidas.”

Maquiavel



Estas palavras de Maquiavel poderiam ser usadas com propriedade para descrever o que se passou com Alfredo Monteiro durante a entrevista concedida à antena 1.


A entrevista correu em duas fases distintas: na primeira a exposição do “concelho maravilha” os projectos para a Baía, o circuito da arqueologia do trabalho desde a época romana até à produção do aço passando naturalmente pelos descobrimentos.

"E os velhos estaleiros da Quinta da Fidalga? E os timings?" Perante estas interpelações - de Hugo Metelo,da Associação Náutica do Seixal-, o presidente do município desdobrou-se em justificações: falou dos milhões de euros investidos; disse que o investimento em património tem que ter condições para poder sobreviver; invocou o QCA e finalmente, reconheceu que estaleiro não está classificado… “é [só] para aí que dirigimos o investimento”.


Ou seja, houve o reconhecimento de que só o património classificado poderá eventualmente ser preservado.

Ora, quem é que propõe a “classificação” do património? As câmaras. Logo, esta classificação é feita de acordo com critérios da própria câmara. No caso, ficou bem patente que nem os velhos estaleiros da Quinta da Fidalga eram prioritários nem outra parte muito importante da história local – as quintas. Aliás, eles nem sequer fazem parte desses critérios, não é verdade?
Mais, o facto de os núcleos urbanos antigos não terem sido propostos para classificação deixa-os numa situação precária, inteiramente vulneráveis aos que entendam “arrasar” para construir com vista para a Baía. Mais grave ainda, o património não classificado, aquele que apenas merece o título de “interesse municipal” não tem sido objecto de estudos que o preservem (nem que seja em papel/digital) para o futuro.


Ficámos ainda a saber que não se sabe para quando são estes projectos, ou seja está tudo dependente de financiamentos externos QCA, parcerias publico-privadas...

Sobre este tema ver também: Baía do Seixal, a-sul

1 comentário:

Bluegrowth disse...

Carissímo,
Antes de mais obrigado pela referência e pelo interesse, passei a desenvolver esforços para a mediatização do caso.

Escalei o problema para decisores politicos a um nível mais elevado e, tenho um jurista a tratar de uma providência cautelar com efeitos suspensivos do acto da demolição do estaleiro. Espero que chegue a tempo pois registei, hoje, que os trabalhos estão já muito avançados.