quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Obsessões


Os professores estão descontentes e manifestam-se em peso nas ruas de Lisboa contra um conjunto de medidas que longe de melhorarem a qualidade do ensino, aumenta a carga burocrática e retira disponibilidade o que há de mais essencial na profissão docente: os alunos. Sob o pretexto de avaliar o professor caminhamos para um sistema que inevitavelmente, levará à normalização das práticas pedagógicas ora, este foi precisamente o principal factor de declínio da qualidade do ensino em Inglaterra. Esta obsessão de testar e de interferir na sala de aula tem vindo a aumentar e contudo, o que há de mais fascinante na actividade de um professor é a sua capacidade para conquistar “o seu público” (os alunos) recorrendo à espontaneidade do momento. O que as escolas e os professores mais precisam é de autonomia mas, essa autonomia é cada vez mais uma forma de retórica.
Os programas são superiormente concebidos para se ajustarem a alunos “médios”, de famílias “funcionais”, em meio sociais que valorizam a escola e os saberes. No entanto, grande parte dos alunos está longe de se poder considerar “médio”, muitas famílias estão longe de se poderem considerar funcionais e o meio social de onde provêm não valoriza a escola, nem o conhecimento… os professores, sentem-se pressionados para que os alunos obtenham o sucesso imediato e até artificial, pois disso depende, em parte, a sua própria classificação… os professores, sentem-se pressionados para que os seus alunos não abandonem precocemente a escola (como se isso deles dependesse) quando, de facto, para muitas famílias a escola é considerada como “um prejuízo”. A prevenção do abandono escolar não passa pelo professor/director de turma (para dar um exemplo, como obrigar uma família cigana a enviar à escola uma jovem em idade “casadoura” se a própria polícia não é capaz de impedir o casamento de uma menos de … 12 anos, apesar de ser crime), é sobretudo, uma questão cultural e de mentalidade perante a qual o professor está impotente mas que pesa na avaliação do seu desempenho.
As “teorias ministeriais do ensino” não têm em conta as reais condições dos alunos e das escolas, ao pretender normalizar, ditar, controlar, “grelhar” as práticas lectivas e, toda a actividade do professor na escola perde-se mais do que se ganha e a prova é que o descontentamento no sector é transversal: alunos*, funcionários, professores todos têm razões de queixa de um ministério autista cujo único objectivo é cumprir uma agenda política/económica mas cuja forma de actuar começa a preocupar vozes fundamentais dentro do PS.
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* Alunos faltam às aulas e protestam contra políticas educativas do Governo...

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