domingo, 31 de maio de 2009

Contos e lérias

Clicar na imagem para aceder a edição on-line*

Olhai a capa do último Boletim Municipal [do Seixal]. Digna de uma qualquer produção fictícia. Azul, azul como a ilusão de uma água mansa e limpa. Barcos alinhados simetricamente, impõe-se sob o fundo de casas tradicionais e até de algum arvoredo. Toda a decrepitude, ruínas,sujidade foi cirurgicamente eliminada. De toda a fotografia emana uma sensação de equilibrio, estabilidade, harmonia bem ao gosto do melhor kitsch. O próprio título (muito a meu gosto, aliás) é, aparentemente inatacável ...

O assunto desta postagem é os “Fora” do Seixal. Nos últimos anos, a câmara do Seixal tem organizado rotineiramente, encontros temáticos com a população. Estes encontros aparentemente destinados a promover o diálogo entre eleitos/eleitores/técnicos são, de facto, momentos privilegiados de propaganda.

Os fóruns são uma oportunidade para mostrar a obra do jardim, o espaço onde será construído um novo equipamento, a maqueta de um projecto ... tudo isto, devidamente enquadrado por um executivo autárquico em traje de passeio e pose dialogante. A finalizar o dia acontece o fórum propriamente dito. A verdade, que as fotos do BM não deixam vislumbrar (pois mostram exclusivamente a mesa, veja-se último numero página 6) é, que a participação de população é ínfima. Quem são os munícipes que se disponibilizam para participar dos foruns? Alguns eleitos, alguns dirigentes de associativos ... e muito, muito poucos mais.

Quantas pessoas marcam efectivamente, presença? 40, 50? Que representam elas num universo de 150 000? Quantas destas pessoas são de facto “população”, sem ligações a aparelhos partidários?Quantas vão ali para “dialogar”? E quantas por fidelidade partidária ou, por necessidade assinar um contrato programa com a câmara*, vão ao fórum com o único objectivo de tecer rasgados elogios ao poder instalado ou, de defendê-lo, com unhas e dentes se necessário?

Os fóruns são o momento para divulgar folhetos, brochuras, power-points (muito na moda) e, “usar da palavra”. Apresentar projectos, deslumbrar com milhões num autentico bodo aos pobres. Como é normal, em ocasiões destas os holofotes recaem sobre o poder: técnicos municipais, presidentes de junta, vereadores e, claro está o presidente da edilidade, que faz o auto-elogio da obra aproveitando mais uma oportunidade para perorar sobre os projectos a concretizar num futuro incerto.

O sucesso está garantido à partida. O Boletim Municipal publica um página inteirinha sobre o evento com fotografia e “reportagem”.. Mais, publicitam-se os projectos já antes anunciados. Tudo uma excelente ocasião de propaganda encapotada para o PCP.

______

* Note-se que para dificultar o acesso ao rol de promessas por cumprir ao longo dos anos a edição do Boletim Municipal passou a ser feita exclusivamente em formato pdf. Deste modo só é possível a pesquisa número a número. Assim, se vâ a transparência ...

** Hoje, Ilda Figueiredo queria “ que o secretário-geral do PS, José Sócrates, esclareça quantos membros do Governo têm participado na campanha "a distribuir cheques e benesses" pelo país.” Uma pretensão legítima. Mas, quando olhamos para os títulos das páginas 5 e, 7 ficamos esclarecidos quanto às práticas do PCP/CDU em vésperas de eleições.

2 comentários:

Anónimo disse...

Será a falta de população porque souberam do que aconteceu no encontro realizado na Torre da Marinha, para informarem e "recolherem" as opiniões dos moradores sobre as obras na avenida MFA, apenas para estes descobrirem que estava já tudo decidido e o presidente apenas lhes ia dizer que as obras começavam dias depois?
Aonde a recolha de opinioes, aonde ouvir os municipes? isso é em concelhos que nao são de Abril, aqui ouve-se apenas uma voz, a do Dono!!!

hkt disse...

Concordo consigo. Mas não foi só na Torre da Marinha, os fóruns servem apenas os interesses propagandísticos do câmara.
De facto, a pergunta que fica à saída é "o que vim eu aqui fazer?". A resposta é simples: emprestar colorido à plateia, ajudar a tornar o Fórum num "sucesso", já que ninguém está ali para ouvir os munícipes.