sábado, 12 de janeiro de 2008

Dos limites da Tolerância


Confesso que me sinto vítima da ”angústia” do blogger antes do primeiro “post”. É assim como que uma paralisia que me tem impedido de ir além das (fáceis) fotografias “roubadas” aqui e ali.
Gostaria, no entanto, de alimentar este blog “lunar” (Hekate, é a face oculta da lua) com maior regularidade. Digamos que tenho estado num estado de “lua nova”, pois devagar, devagarinho, tenho estado a aprender. A exigência de tempo e dedicação é grande… trata-se, sem dúvida, de um desafio.

Voltemos à angústia da escolha do primeiro tema, das primeiras palavras. Perdida entre os grandes e os pequenos temas que vão dando cor ao nosso dia a dia hesito. Hoje ao ler o semanário Sol saltou-me à vista uma notícia sobre a qual não posso deixar de reflectir: “O município de Roma aprovou uma moção apresentada pelo partido Refundação Comunista em que é pedido ao conselheiro municipal que as escolas separem as crianças ciganas nos autocarros escolares, devido a confrontos registados nos últimos dias.” De acordo com esta notícia voltar-se-ia a utilizar diferentes autocarros para transportar as crianças. Esta notícia remete-nos para os limites da tolerância.

Etimologicamente a palavra tolerare significa sofrer ou suportar pacientemente. Quem tolera está, em princípio numa posição de superioridade em relação ao que é tolerado, neste sentido pode ou não tolerar. O conceito tolerância radica numa relação de poder assimétrica.
A tolerância pode ser como a simples aceitação das diferenças entre aquele que tolera e o que é tolerado, ou a disponibilidade do primeiro para integrar ou assimilar o segundo.
Aceitam-se e respeitam-se todas as culturas que antes foram discriminadas ou combatidas. Este princípio tem servido para fundamentar o multiculturalismo. Mas, na verdade a aceitação da identidade cultural do Outro não significa que o aceitamos como igual, nem sequer que aceitemos conviver no mesmo espaço."Iguais, mas separados" é, uma forma do racismo encapotado.

Quais são as margens da tolerância? Uma das mais concretas é a segurança. A percepção do Outro como ameaça, pode levar-nos da tolerância à intolerância num abrir e fechar de olhos. De resto, sociedades crescentemente normalizadas, sociedades em que o papel do Estado adquire um cada vez maior protagonismo como regulador social, sociedades em que o individuo é apenas o reflexo de um todo colectivo são sociedades propensas à intolerância e ao totalitarismo, pois são geradoras de exclusão e produtoras de fobias que alteram as margens da tolerância.

O caso da segregação no autocarro do município de Roma é apenas mais um sinal, preocupante. Mas, os exemplos, de intolerância, sucedem-se desde as recentes leis anti-tabaco, até à forma de actuação da ASAE (veja-se a notícia de hoje no Expresso), passando pelos bairros sociais colocados estrategicamente nas periferias urbanas e transformados em guetos com uma cultura marginal própria.

Sem comentários: