domingo, 27 de janeiro de 2008

Liberdade? Democracia?

Há textos que não nos deixam margem para dúvidas.

De entre muitos outros textos que nos permitem aferir da qualidade da democracia e dos ideais democráticos no séc. XXI, não resisti a fazer a transcrição livre, a partir, do espanhol de parte um texto, sobre a
comunicação, de Ivan Bravo:

“Estávamos todos [o autor, a directora da Rádio Nacional da Venezuela, estudiosos da comunicação] para compartilhar critérios que contribuem para avaliar e propor políticas comunicacionais no Governo revolucionário que lidera o comandante Hugo Chavez.
Para mim, como factor primordial para um governo revolucionário que se empenha na construção do socialismo do séc. XXI, a partir da gestão da cultura, entendo que o compromisso da comunicação é prioritário. Sobretudo quando entendemos que uma comunicação em revolução é uma comunicação em guerra, é uma comunicação que a artilharia do pensamento [a imprensa], os meios rádio eléctricos e todos os interfaces electrónicos e de satélite formam parte das armas da luta de classes, para a definição de hegemonia.
[…]
… Na batalha da comunicação, o desafio está em conseguir os espaços que hegemonicamente pertencem ao bando inimigo, ao bando da dominação capitalista. Para isso é preciso produzir conteúdos humanistas, de valores socialistas, de ética de anti-exploração e anti-capitalismo.
[…]
Comunicação e cultura em revolução são a estratégia para alcançar o suporte espiritual e o sentido do socialismo no séc. XXI. […]”




Este texto é, apenas, um exemplo entre muitos outros possíveis de como a comunicação e a gestão da cultura se fazem de forma inteiramente assumida, para alcançar objectivos políticos. O que mais choca é o seu carácter belicista. Trata-se de “uma guerra”: há “armas”, “artilharia”, "batalhas" e“bandos de inimigos”.
Que democracia poderá estar subjacente a uma “revolução” destas?
Aqui, quem detém o poder detém-no absolutamente, sem partilha porque só os “bandos inimigos” poderão contestar esta retórica. Esta apetência pelo controle dos media é de resto uma das imagens de marca das ditaduras (de todas as cores, em todas as épocas). Tudo o que é publicado tem que obedecer a um guião, só assim se garante o unanimismo, só assim se garante a perpetuação no poder a todo o custo. Não há que olhar a meios. Os opositores perderam a sua “humanidade” ao tornarem-se “bandos de inimigos”, logo tudo é legítimo (fazê-los reféns, aprisioná-los, torturá-los ou, simplesmente, assassiná-los). Culpados, antes de o serem, os adversários políticos, são alvos a abater.
Esta lógica justifica o injustificável, o inaceitável em nome do humanismo e da democracia...

Nesta comunicação “revolucionariamente empenhada” não pode haver espaço para o risco do improviso do “homem da rua”, prova disso mesmo é a forma como na China se conduzem as entrevistas previamente ensaiadas e com script ...
__________________________________
Post-scriptum: sobre este tema, numa perspectiva mais europeia, veja-se, “A Arte de mentir”, de António Barreto no sorumbático.

3 comentários:

Filipe de Arede Nunes disse...

A isto, eu chamo totalitarismo...
Cumprimentos,
Filipe de Arede Nunes

Anónimo disse...

JSD Seixal e Distrital de Setúbal da JSD organizam Assembleia do Cidadão na Junta de Freguesia da Amora (4ª Feira dia 30 pelas 21:30)

Se tens opinião, não deixes de marcar presença para podermos ouvir a tua opinião quanto ao estado do nosso concelho.

Vejam mais em:

www.juventudeseixal.blogspot.com

Carlos Medina Ribeiro disse...

Obrigado pela referência ao SORUMBÁTICO.

As crónicas anteriores de A. Barreto estão, lá, disponíveis.
Basta clicar nas iniciais AMB que se vêem em rodapé das crónicas.