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Olhai a capa do último Boletim Municipal [do Seixal]. Digna de uma qualquer produção fictícia. Azul, azul como a ilusão de uma água mansa e limpa. Barcos alinhados simetricamente, impõe-se sob o fundo de casas tradicionais e até de algum arvoredo. Toda a decrepitude, ruínas,sujidade foi cirurgicamente eliminada. De toda a fotografia emana uma sensação de equilibrio, estabilidade, harmonia bem ao gosto do melhor kitsch. O próprio título (muito a meu gosto, aliás) é, aparentemente inatacável ...
O assunto desta postagem é os “Fora” do Seixal. Nos últimos anos, a câmara do Seixal tem organizado rotineiramente, encontros temáticos com a população. Estes encontros aparentemente destinados a promover o diálogo entre eleitos/eleitores/técnicos são, de facto, momentos privilegiados de propaganda.
Os fóruns são uma oportunidade para mostrar a obra do jardim, o espaço onde será construído um novo equipamento, a maqueta de um projecto ... tudo isto, devidamente enquadrado por um executivo autárquico em traje de passeio e pose dialogante. A finalizar o dia acontece o fórum propriamente dito. A verdade, que as fotos do BM não deixam vislumbrar (pois mostram exclusivamente a mesa, veja-se último numero página 6) é, que a participação de população é ínfima. Quem são os munícipes que se disponibilizam para participar dos foruns? Alguns eleitos, alguns dirigentes de associativos ... e muito, muito poucos mais.
Quantas pessoas marcam efectivamente, presença? 40, 50? Que representam elas num universo de 150 000? Quantas destas pessoas são de facto “população”, sem ligações a aparelhos partidários?Quantas vão ali para “dialogar”? E quantas por fidelidade partidária ou, por necessidade assinar um contrato programa com a câmara*, vão ao fórum com o único objectivo de tecer rasgados elogios ao poder instalado ou, de defendê-lo, com unhas e dentes se necessário?
Os fóruns são o momento para divulgar folhetos, brochuras, power-points (muito na moda) e, “usar da palavra”. Apresentar projectos, deslumbrar com milhões num autentico bodo aos pobres. Como é normal, em ocasiões destas os holofotes recaem sobre o poder: técnicos municipais, presidentes de junta, vereadores e, claro está o presidente da edilidade, que faz o auto-elogio da obra aproveitando mais uma oportunidade para perorar sobre os projectos a concretizar num futuro incerto.
O sucesso está garantido à partida. O Boletim Municipal publica um página inteirinha sobre o evento com fotografia e “reportagem”.. Mais, publicitam-se os projectos já antes anunciados. Tudo uma excelente ocasião de propaganda encapotada para o PCP.
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* Note-se que para dificultar o acesso ao rol de promessas por cumprir ao longo dos anos a edição do Boletim Municipal passou a ser feita exclusivamente em formato pdf. Deste modo só é possível a pesquisa número a número. Assim, se vâ a transparência ...
** Hoje, Ilda Figueiredo queria “ que o secretário-geral do PS, José Sócrates, esclareça quantos membros do Governo têm participado na campanha "a distribuir cheques e benesses" pelo país.” Uma pretensão legítima. Mas, quando olhamos para os títulos das páginas 5 e, 7 ficamos esclarecidos quanto às práticas do PCP/CDU em vésperas de eleições.