quinta-feira, 8 de maio de 2008

Destruir a História de Mansinho



A Companhia de Lanifícios de Arrentela instalou a sua unidade fabril em 1862 e teve uma importância económica notória uma vez que proporcionava trabalho a cerca de 500 famílias oriundas da Covilhã, Tortozendo, Gouveia e naturalmente da Arrentela. Esta fábrica deu trabalho a várias gerações de trabalhadores sendo significativo o seu impacto económico na região.

A Companhia de Lanifícios de Arrentela beneficiava das excelentes condições geográficas do local que asseguravam a proximidade a Lisboa (via rio Judeu) e consequentemente a acessibilidade às matérias primas e um eficiente escoamento dos produtos. A água era um dos factores essenciais ao processo de produção e ela existia ali em abundância.

A fábrica foi desactivada nos anos 80 (do séc. XX) e, cerca de 1990, foi sujeita a desmantelamento “procedendo-se, sem a possibilidade de qualquer registo ou documentação, à alienação da sua maquinaria e equipamentos, processo a que não foram poupados a maioria dos imóveis e oficinas, não obstante o seu elevado valor histórico, tecnológico e cultural.”

Assim, a falta de respeito pelo património histórico fez com que imóveis de interesse tivessem desaparecido sem que se pudesse ter concluído o seu estudo e o inventário de conjunto. E tudo isto se fez sem ter suscitado qualquer clamor audível. Sem protestos, de mansinho. O Boletim Ecomuseu Municipal*, de onde retirei estas informações dá conta desta insatisfação mas, com dezasseis anos de atraso nada havia já a fazer. Onde estavam os responsáveis políticos (na área do património e urbanismo) da época que se calaram, encolheram os ombros e, deixaram passar?

Aqui estava um exemplo claro de uma unidade fabril que teria sido possível preservar, cujo interesse para a história local (e do período industrial) era inegável e que uma conjugação vários factores (desinteresse, adiamento da sua classificação, apetites imobiliários) condenou a um estado de quase-morte súbita, inglória e silenciada.

*Boletim Ecomuseu Municipal n.º39, de 2006.

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