sábado, 10 de maio de 2008

“O cómico Geldof e a falsa notícia”

Este é o título do artigo do Jornal de Angola que dá conta das declarações de Bob Geldof, na conferência realizada esta semana em Lisboa, por iniciativa do BES e do Jornal Expresso.

Angola tem a triste sina de aturar todo o tipo de aventureiros, desde mercenários, que em 1975 invadiram o país, até briosos rapazes e raparigas que a coberto de organizações não governamentais ou da caridade barata nos entram pelas portas dentro.”, lê-se neste artigo que acusa igualmente Geldorf de ser bêbado, ignorante e malcriado : “Embalado nos seus vómitos, o comediante britânico ousou insultar os angolanos, afirmando perante os convidados que “Angola é gerida por criminosos”’. O Jornal de Angola termina com uma ameaça velada: “Pelos vistos o BES tem que ver quem convida para falar de desenvolvimento sustentado. É que lhe pode aparecer alguém a injuriar governantes estrangeiros.”

Sobre este artigo e, sobre modo como está escrito nada acrescentarei pois, as palavras falam por si, mostrando à saciedade a forma como o nacionalismo pode ser empolado para justificar o autoritarismo e a falta de liberdade de expressão.

O que Geldof afirmou não é surpresa para ninguém. Bob Geldof, limitou-se a gritar em público:

“- O rei vai nu!”

As afirmações de Geldof caíram mal nos cleptocratas angolanos: a comparação entre o custo das casas em Luanda e em Chelsea e Park Lane nos arredores de Londres. E, se os angolanos têm razão ao afirmar que essas casas foram construídas por privados logo, as autoridades não podem controlar os preços, também é verdade que, um funcionário da Imogestin, companhia que gere o programa governamental de habitação social, afirmou à AFP, que algumas das habitações sociais a preços controlados podiam custar 180,000 (US Dolares), o que vai muito para além das possibilidades da maioria dos angolanos...

O discurso de Geldof suscitou dois tipos de reacções: o incómodo dos organizadores e o entusiasmo dos que pretendem ver discutidas as razões que levam um dos países mais ricos de África a ter dos mais altos índices de pobreza..

Em Portugal existe um silêncio comprometido pelo complexo de ter sido o país colonizador e, pela forma desastrosa como se procedeu à descolonização. A isto, juntam-se os interesses económicos: as exportações portuguesas para Angola subiram de 1,06 biliões de dólares em 2004 para, 2,52 biliões de dólares em 2007, esperando-se um crescimento de 30% para este ano. Por isso também, o BES apressou-se a retratar-se. Outros grandes investidores sentiram concerteza a pressão destas declarações pois, Angola tem usado a economia para manter as bocas caladas e os olhos fechados perante as gritantes evidências de desigualdades extremas num dos países potencialmente mais ricos de África: Soares da Costa, Mota-Engil SGPS and Teixeira Duarte Banco Português de Investimento (BPI), Banco de Fomento de Angola (BFA), Caixa Geral de Depósitos (CGD) , Banco Comercial Portugués (BCP) todos estão dependentes do governo angolano para os seus negócios, todos querem as suas boas-graças.
O silêncio é de petróleo e diamantes feito...

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Sobre Eduardo dos Santos e os "Bobs", ver aqui ...
Opinião de Mário Crespo no JN de 19/05/2008.

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