sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Angola, a miragem da Democracia (3)


Hoje é dia de eleições em Angola.Mais de 8 milhões de eleitores são chamados a fazer a sua escolha é o culminar de "...um processo cheio de contradições que levantam dúvidas sobre a sua transparência. Dúvidas ofuscadas pelo entusiasmo que envolve uma ocasião carregada de um simbolismo muito especial: não são só as primeiras eleições em 16 anos, muito esperadas e várias vezes adiadas, como são as primeiras em clima de paz."
Escrevi aqui, várias vezes, que mesmo à distância (física, porque estou em Portugal; emocional, porque não tenho especial simpatia por nenhuma das forças políticas em presença) e, num papel de mera observadora, a comunicação/informação aparece colada ao partido do poder, estou a falar naturalmente dos órgãos de informação com capitais públicos (onde um bocadinho de isenção seria altamente louvável), como é o caso do Jornal de Angola. A Leitura da "Palavra do Director" de hoje, dia das eleições, é transparente:

"A posição dos políticos angolanos face ao passado e ao futuro, à violência e à tranquilidade, é um bom motivo para avaliar os discursos que se alinham na actual campanha eleitoral. A oposição afinou a campanha por dois importantes eixos: os lugares-comuns saídos da intriga e da injúria, tão a gosto de certa imprensa, que exerce um efeito perverso sobre a opinião pública com o mau jornalismo que desenvolve, e os activismos políticos importados de outros quadrantes, plasmados nos “relatórios” sobre Angola. […]
A oposição com possibilidades de ser poder traz, assim, muito pouco ao debate. Enquanto o Governo, alvo principal da campanha da oposição, vai lançando o maior número de projectos sociais jamais visto, desde sempre, em Angola, em áreas sensíveis que mexem com a qualidade de vida dos cidadãos. Água, luz, escolas, centros de saúde, segurança, emprego, protecção social, informação, sítios de cultura e de lazer estão na primeira linha das realizações que o Governo pode exibir. Com estas obras e com um discurso mobilizador, virado para a consolidação da paz e da reconciliação nacional e para a resolução dos problemas das populações, o Governo e o MPLA protagonizam uma mensagem consistente do verdadeira querer nacional. Sem confusão, sem intriga, sem amarras ao passado.”
José Ribeiro, Eleições e Reconstrução

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"A chefe da missão de observação da União Europeia às eleições legislativas em Angola classificou como um "desastre, péssima", a organização nas assembleias de voto de Luanda que visitou."
in, JN
O equipamento não foi todo instalado ontem”, indicou ainda Luisa Morgantini. “Eles só se começaram a preparar às 06h00 de hoje. As operações atrasaram-se em todo o lado. É o caos total. Não têm listas dos eleitores, as pessoas não sabem o que fazer.
in, Público, ver tb. aqui
"The real test of the party’s commitment to democracy is likely to come next year, when Angola is expected to elect a president, who is the dominant power center in the government. José Eduardo dos Santos, who has held the office for 29 years, is expected to run again."
"O Expresso enviou em Junho e Julho 35 câmaras descartáveis, numeradas, que foram distribuídas por associações de activistas e por habitantes dos musseques de Luanda. Todas as fotografias que são publicadas na Única e em www.expresso.pt foram tiradas por eles. Mostram o dia-a-dia nos musseques - onde vive a esmagadora maioria dos cinco milhões de habitantes da capital - as vidas de quem lá vive, o derrube de habitações, as obras de terraplenagem. E, também, os condomínios - o «Jardim do Éden», o «Nova Vida» - que estão a ser erguidos onde vivia essa franja mais pobre da população antes de ser escorraçada."
in, PPT

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