segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A Ilusão da Democracia


Alexandre Lukashenko foi eleito presidente da Bielorrússia há 14 anos. Desde então o referendum à constituição em 1996 e as eleições presidenciais de 2006 ficaram marcadas pela obstrução do regime à monitorização internacional, pela manipulação e falsificação de resultados e pela repressão que se abateu sobre os opositores do regime. Mas, o facto de a Rússia ter deixado de subsidiar (parcialmente) a energia consumida pela Bielorrússia trouxe ao país problemas económicos e o incentivo para se aproximar da Europa e dos EUA. Por isso, esperava-se que nestas eleições se verificasse uma alteração que não fosse mera cosmética, uma vez que, em 2008, Lukashenko procurou que o processo eleitoral produzisse um mínimo de reclamações e pudesse ser aceite pela comunidade internacional.

Os opositores em lugar de serem presos como anteriormente foram afastados por questões relacionadas com pagamentos de impostos, foram despedidos da universidade ou do emprego, alistados no exército, enfim, convencidos de uma forma ou de outra de que não deveriam concorrer contra Lukashenko. Por isso, alguns “cabeças de lista” nem sequer se apresentaram como candidatos.

Os jornais locais preferiram sempre destacar a preparação para as eleições, e as movimentações dos observadores internacionais (particularmente da CEI) às propostas dos candidatos locais. As iniciativas dos grupos de Direitos Humanos e dos partidos opositores foram sistematicamente silenciadas. Toda a atenção esteve na organização das eleições. Enquanto isso a oposição era descrita como ilegítima, desorganizada, turbulenta. Apesar disso, os ataques contra a oposição nos media parecem ter sido mais moderados e o clima de medo menos notório, do que em eleições anteriores, quando não se procurava agradar aos observadores ocidentais.
Assim, a campanha eleitoral praticamente não existiu. Em Julho,os órgãos de comunicação social dominados pelo estado (não existem outros) dedicaram 70% da cobertura das eleições ao presidente Lukashenko. O jornal Sovetskaya Belorussiya dedicou 90% da cobertura das eleições ao presidente e à comissão eleitoral. Entre Julho e Agosto os órgãos de comunicação social bielorrussa dedicaram menos de 3% do seu espaço à oposição. Não houve debates na rádio nem na televisão. Os tempos de antena foram transmitidos durante a hora de ponta 17.30- 18.30H e, só foram transmitido por televisões regionais. As acções de campanhas só foram autorizadas em parques e jardins e, a propaganda eleitoral só pôde ser feita em placards individuais.

Os eleitores chegaram ao momento de votar sem conhecerem os candidatos e as suas propostas. O resultado destas eleições só constitui surpresa por o partido no poder ter feito o pleno e ter ganho todos os lugares num parlamento destituído de poderes já que a Biolorrússia é governada por decretos presidenciais… ao ocidente resta agora a escolha de rotular a Bielorrússia como ditadura (e manter as sanções) ou, democracia musculada o que seria melhor para os negócios.

1 comentário:

Obseervador disse...

Pois é.
Digamos que a bielorussia tem uma democracia tutelada.
Pode-se dizer o que se desejar desde que não se critique o poder ou fale de questões que possam embaraçar as autoridades.
Pode-se escolher quem se desejar desde que os candidatos estejam em sintonia com as autoridades vigentes.