sábado, 15 de março de 2008

Da Falta de Vontade Política ...


Folheando a última edição do Boletim Municipal do Seixal, não pude deixar de sorrir...
Na sua página 5 anuncia-se: “Espaço requalificado liga Quinta da Fidalga ao Núcleo Naval”. Um subtítulo a negrito põe em evidencia o “Novo espaço de lazer e bem-estar” dando alguns pormenores sobre o projecto. Tudo isto encimado por três desenhos onde se mostrar um caminho vermelho semicircular entre as sombras das palmeiras e de outras árvores de grande porte (pelo tamanho das palmeiras penso, que os desenhos se reportam ao ano de 2125) que irão transformar este espaço, num espaço igual a outros pois, aquilo que o caracterizava, o estaleiro, foi destruído.
Mas vamos ao que interessa.
A primeira parte do “artigo” é dedicada a refutar aquilo que aqui foi dito (mas também, o que foi dito pelo Baía do Seixal, a-sul, pelo Revolta das Laranjas, entre outros) durante os meses de Janeiro e Fevereiro. Vejamos então:

1- Edifício do estaleiro – de acordo com o BM “não era mais do que um armazém construído em pleno séc. XX …”;
2- o historiador, António Nabais, afirma que “não há referências ao estaleiro naval da Fidalga.”;
3- António Nabais explicou (não era preciso porque, nós sabíamos) que “os estaleiros navais [antigos] eram erguidos nas praias”;
4- os estaleiros instalados nas margens do saco do Seixal eram pequenos e “deixaram poucos vestígios de interesse histórico”.
:

Muleta, embarcação tradicional do Tejo construídas nas praias da Baía da Seixal


1- Destruídos todos os antigos estaleiros do Seixal, à excepção do estaleiro da Arrentela que é um barracão de madeira de valor histórico discutível, inclusivamente aquele que estaria destinado a albergar o pólo museológico de Amora e havendo um compromisso de preservar estes espaços parece incompreensível a decisão de derrubar o edifício. Poder-se-ia a argumentar sobre as condições de segurança, sobre o reduzido valor histórico e patrimonial mas, isso é, lana caprina, o que de facto não houve foi sensibilidade e vontade política. O estaleiro, simplesmente, interpunha-se entre os projectos da câmara do Seixal para aquele lugar, logo, tinha que ser abatido.

2- A história dos esteiros do Tejo está cheia de estaleiros que foram mudando de nome à medida que a sucessão de gerações impôs a mudança de proprietários/características. É claro, que no séc. XVI não existem referências ao “estaleiro naval da Quinta da Fidalga”. Óbvio.

3 - Existem referências a um conjunto de estaleiros situados nas margens dos esteiros do Tejo cujas praias, na época dos Descobrimentos, fervilhavam de actividade, ora, esta praia poderia esconder vestígios de antigos estaleiros que depois dos movimentos de terra ali efectuados estarão agora perdidos. Sabemos que pela própria essência dos materiais usados na construção naval até ao séc. XIX é muito difícil encontrar vestígios de monta mas, valeria a pena tentar.

Ora, o que as “vozes discordantes” disseram foi que era necessário proceder ao estudo arqueológico do local pois, o subsolo poderia revelar vestígios de antigos estaleiros importantes para a história local e da construção naval. Antes de proceder à betonização encapotada do espaço seria importante fazer um estudo de campo e, não meramente livresco, como aconteceu. De qualquer forma continuamos a aguardar pacientemente o “relatório técnico” que o Sr. Veredor Jorge Silva referiu. Muito embora, este “artigo” no BM tenha contribuído decisivamente para agravar a minha convicção de que “não existe relatório técnico”, quando muito uma pesquisa bibliográfica feita à medida.
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Obs.: curioso verificar que nos desenhos publicados não surge qualquer equipamento de restauração associado, no entanto… Proc. 3/M/04 – Reapreciação e aprovação. Aprovada por maioria e em minuta, com duas abstenções, a concessão do direito de superfície para a instalação de um equipamento de restauração e bebidas com cais próprio em parcela do domínio privado municipal na Arrentela (estaleiro da Fidalga) para um valor base de licitação de € 1.000.000 por 40 anos.»[ver aqui]

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