quinta-feira, 27 de março de 2008

Por uma imagem se perde... (2)

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Durante muitos anos a imagem do mestre-escola foi reverenciada na sociedade portuguesa embora, nessa época, a escola fosse só para alguns. Estávamos perante uma escola elitista e urbana. Estávamos na época em que se aprendia a ler na Bíblia ou nos jornais, na época dos autodidactas. A alfabetização, foi um processo penoso feito de idealismos e de fatalismos, que conduziu a uma escolarização precária da população portuguesa. Para muitas crianças nos meios rurais, a escola funcionava ora, como um escape ao duro trabalho dos campos ora, como uma penosa obrigação (para crianças e famílias) que tinha de ser cumprida até se saber assinar…
A disciplina era rígida, não havia falta de réguas e de palmatórias herdadas dos tempos em que os professores eram os severos jesuítas e outros clérigos. Dessa escola ficou-nos a imagem do autoritário professor que a democratização da escola e as teorias do eduquês (para citar JPP) haveriam de repudiar. Dessa escola autoritária ficou a rejeição da figura professor e uma certa incomodidade que ainda hoje sente perante este grupo profissional amado por uns, e olhado com desconfiança por outros.

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Uma parte da sociedade portuguesa identifica-se com o estilo, o comportamento e a atitude de Maria de Lurdes Rodrigues relativamente à classe profissional dos professores. O corporativismo, os privilégios, as férias, os sindicalistas, as faltas… todo um discurso montado para agradar à população que se sente de algum modo excluída dos apregoados “privilégios” e que está disposta a aceitar acefalamente um discurso onde as palavras rigor e determinação têm lugar garantido. A forma severa como se dirige aos professores, acusando-os de estarem mal informados ou dos males do sistema, fará certamente as delícias de alguns antigos alunos que por uma razão ou por outra se sentiram maltratados pela escola. Trata-se de uma estratégia de sedução de uma parte não desprezável do eleitorado que ainda olha a escola como “um mundo à parte” um mundo a que não pertence. Evidentemente, que esta estratégia tem os seus custos. Desde logo o não envolvimento dos professores nas políticas educativas e a rejeição destas – como se viu na manifestação de 8 de Março.
A Sócrates, resta um dilema: segurar Maria de Lurdes Rodrigues e arriscar-se a perder os professores e a classe média mantendo a postura (aparentemente) inflexível que o tem caracterizado ou, deixá-la cair, evitando perder a face (como está a fazer na área da saúde com uma ministra mais dialogante e gozando do “estado de graça”). A Sócrates e ao PS, a imagem de uma ministra da Educação sombria e, crescentemente, crispada não ajudam. As polémicas, as manifestações têm provocado um inegável desgaste na 5 de Outubro. Sócrates, tem dado sinais claros de que quer entrar em campanha, : humaniza a sua imagem; cuida das suas aparições públicas de forma a evitar imprevistos; decreta o fim da “crise” e, procurará certamente mostrar-se mais aberto ao diálogo. Por isso, o destino de Maria de Lurdes Rodrigues será traçado nas sondagens e na contagem dos comentadores que ainda lhe sejam favoráveis.

Para já adivinha-se um período complicado para a Educação. Resta saber se os professores saberão desmontar o discurso do M.E. e, se conseguirão transmitir para a sociedade o (vasto) leque de preocupações que os leva a oporem-se à política educativa deste governo, não só as relativas à muito badalada avaliação mas, sobretudo, porques as iniciativas legislativas do governo irão, certamente, prejudicar os alunos pois, trata-se de uma política economicista cujo objectivo principal é alterar a posição de Portugal nas estatísticas internacionais (sem resolver os problemas de fundo).

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