quarta-feira, 19 de março de 2008

Por uma imagem se ganha, por uma imagem...

Os poderosos sentiram desde cedo a tentação de controlar a imagem que projectavam em seu torno ao mesmo tempo que procuravam igualmente controlar a imagem dos seus adversários. Poderíamos recuar até aos primórdios da humanidade para provar esta teoria. Entre pinturas rupestres e objectos de adorno ela poderia ser provada na pré-história e em todas as civilizações que sucessivamente se seguiram até aos nossos dias. A democracia representativa ao legitimar-se pelo voto popular é ela própria cada vez mais dominada por estratégias de comunicação. A imagem pode fazer ganhar eleições ou deitá-las a perder.
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O caso do candidato Obama parece-me interessantíssimo. O primeiro candidato de ascendência africana - potencialmente - ganhador, contra a primeira mulher - potencialmente - ganhadora. Uma luta de minorias que até há pouco tempo estariam arredados da disputa pela Casa Branca. A ascendência de Obama tem sido jogada para atrair ou repelir eleitores. O eleitorado conservador dos EUA leva Obama a vestir-se segundo modelos rigorosamente ocidentais sentindo que as fotos onde aparece vestido de acordo com padrões africanos o podem prejudicar. Mais interessante, ainda, é o jogo de luz das suas fotos. A manipulação da imagem de Obama é feita para atenuar ou, aumentar o efeito da africanidade e desta forma, cativar ou afastar eleitores.
Barack Obama, está perfeitamente consciente desta questão. Aliás, o seu discurso "A More Perfect Union” é prova disso mesmo. Considerando que foi feito (no início desta semana), já depois da controvérsia envolvendo o pastor da sua comunidade, reverendo Jeremiah Wright, se ter tornado notada devido às suas opiniões sobre a política externa norte-americana e sobre a comunidade branca. Trata-se sem dúvida de um discursos corajoso em que Obama expõe a sua origem e, reconhece que as questões de raça são fracturantes na sociedade americana. Apelar à união é uma forma inteligente de neutralizar as suas origens e, capitalizar o que tem de comum com a "maioria".
Nesta luta dos democratas pela corrida à Casa Branca, não deixa de ser curioso que num país em que as mulheres conquistaram o direito ao voto, onde o feminismo foi bandeira, e onde aparentemente conquistaram a igualdade, a eleição, de uma mulher, para a Casa Branca, é ainda uma novidade absoluta.
Curiosa América esta…
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A imagem à esquerda é de um debate com Hillary Clinton, a imagem da direita, provém de um excerto do mesmo debate incluído, num spot publicitário da senadora.
Sobre este tipo de tratamento de imagem ver também: Instant History.

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