sábado, 22 de março de 2008

Indulgência em casa, indisciplina na escola

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Falar sobre a indisciplina na escola tornou-se inevitável nos últimos dias. Mais uma vez, foi necessário um vídeo para que se levantasse um clamor unânime que ecoou por televisões, jornais, blogs levando a uma reflexão sobre o clima que se vive em muitas escolas.
Na verdade, a indignação suscitada por aquelas imagens, justa como é, mostra que muitos comentadores que se permitem dar opiniões sobre as iniciativas da actual equipa ministerial estão completamente desfasados da realidade. A realidade das escolas de hoje já não é o que era no tempo em que muitos dos nossos comentadores fequentaram o D.Pedro, o Camões, a Carolina Michaelis… a realidade social de que são feitas as nossas escolas de hoje é bastante distinta daquela que existia nos anos sessenta e setenta. De resto, a realidade, difere de escola para escola, de acordo com o público que a frequenta. Atrevo-me a pensar que um dos grandes problemas do ensino em Portugal, é o de se dirigir para alunos fictícios, ou seja, aqueles que (quase) só existem no wishfull thinking do legislador, isto é, alunos que gostam de aprender, que têm pais que se interessam pelo percurso escolar dos filhos e os incentivam a adquirir conhecimento, alunos que podem adquirir materiais, que têm no mínimo quatro refeições por dia e, a quem a família exige que se comportem dentro de determinados parâmetros. Ora…

O problema da indisciplina na escola é um problema civilizacional: passou-se do 8 para o 80. No passado, a criança era tratada como um adulto a quem eram conferidas responsabilidades desde muito cedo. Actualmente, a criança é um pequeno “rei”, por vezes um “tirano”, que não só impõe as sus vontades à família como depois, também quer impor a sua vontade na escola.

Os jornais ingleses The Guardian e The Daily Telegraph publicam, hoje, a este propósito, as conclusões de um estudo encomendado pelo Sindicato Nacional de Professores (National Union of Teachers), que merece a nossa reflexão:

O mau comportamento nas escolas é alimentado por pais “super indulgentes” que não sabem dizer não aos seus filhos, de acordo com os estudos. Os professores estão a lidar com um “pequeno mas significativo” número de alunos que fazem birras na aula quando a sua vontade não é satisfeita, ficam exaustos porque se deitam tarde e têm pais “beligerantes” que tomam o partido dos filhos contra os professores.
“Estes pais, eles próprios sob pressão social e muitas vezes incapazes de lidar com o comportamento dos filhos, podem ser muito agressivos, por vezes recorrem à violência para proteger os interesses dos filhos.” Os professores descreveram pais “altamente permissivos que permitem tudo para não se aborrecerem e que não recorrem a sanções ou incentivos.”
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Recomendo a leitura integral dos artigos citados.
O jornal ABC (Espanha) publica hoje a sentença em que uma mãe foi dada como culpada de "não educar" o filho de 14 anos e, origada a pagar 14 000€ de indemnização pela sua "laxitud" e "tolerancia".

2 comentários:

David R. Oliveira disse...

Absolutamente de acordo consigo na medida em que subscreve as conclusões do estudo encomendado pelo sindicato inglês.Lá como cá companheira e amiga! Mas só mais um esforçozinho...explicar ou tentar explicar porque é que (cá!)os papás são tão indulgentes, tão irresponsáveis. Ir ao fundo da questão.Às origens que, a maioria delas, não estão assim tão fundas no tempo... são só trinta e quatro anos. Não é muito! Aí é que eu gosto de ir ou ler.
Cumprimentos
David Oliveira
Não é por nada! é que eu sendo português só conheci Portugal e os portugueses há trinta e quatro anos.

David R. Oliveira disse...

Ideias para pôr termo à bandalheira. Aqui vão:

1. Explicar ao País que a educação pública não é um «direito universal e gratuito», mas um privilégio caro, que é pago pelos contribuintes, por todos os contribuintes, mesmo até por aqueles que não beneficiam minimamente dela;

2. Explicar, imediatamente depois, que tratando-se de um privilégio, a educação não paga pelos utentes deve ser um bem escasso, do qual eles não podem usufruir indefinidamente sem aproveitamento;

3. Responsabilizar os utentes do serviço, isto é, os alunos, pela sua manutenção no sistema gratuito, criando prazos de prescrição para as suas matrículas gratuitas, que, quando ultrapassados, terão por consequência a sua saída do sistema, passando esses alunos a terem de pagar o custo real do serviço que lhes é prestado caso queiram continuar a frequentá-lo;

4. Imposição de regras severas de frequência: limite de faltas não justificadas muito pequeno, com reprovação imediata para quem o ultrapassar; proibição efectiva de tabaco, álcool, telemóveis, etc. no espaço da escola e nas suas imediações; cumprimento das normas básicas de educação e etiqueta para com os professores;

5. Avaliações rigorosas dos alunos, com reprovações anuais efectivas;

6. Obrigação de uso de farda escolar, personalizada escola a escola, até, pelo menos, ao fim do 3º ciclo do Ensino Básico (escolaridade obrigatória, concluída, mais ou menos, até aos 14, 15 anos de idade, muito boa idade para se andar de farda);

7. Criação de um sistema de incentivos para os melhores alunos, com acesso directo ao sistema gratuito de ensino superior e outro tipo de prémios;

8. Obrigação de actualização científica e pedagógica dos professores em períodos nunca inferiores a sete anos, através da realização de cursos que lhes atribuam créditos profissionais, em cursos protocolados pelas direcções das escolas, e da qual dependa a progressão na carreira com a correspondente compensação salarial acrescida;

9. Avaliações científicas e pedagógicas rigorosas dos professores, através de exames regionais/nacionais elaborados, fiscalizados e corrigidos por equipas preparadas para isso, e onde os alunos e os pais dos alunos não tenham a mais pequena participação;

10. Autonomia completa das direcções gerais das escolas, com base em contratos a prazo, e com avaliação de resultados, da qual dependerá a progressão na carreira dos professores envolvidos, em função dos resultados apresentados;

11. Extinção das funções «pedagógicas» das Associações de Estudantes, que são, em regra, constituídas por analfabetos funcionais dedicados às «jotas» e que agem exclusivamente como sindicatos políticos nos órgãos directivos das escolas em que têm assento;