quarta-feira, 16 de julho de 2008

Mal-estar nos subúrbios

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Quase se poderia aplicar a sabedoria popular: "...tantas vezes o cãntaro vai à fonte que perde uma asa." Assim é, também, com as imagens da insegurança vivida no bairro da Fonte, em Loures. A conflituosidade interna nos bairros sociais é grande, e não é de agora. O que é novo são as imagens, fruto das novas tecnologias, fruto de cada cidadão se ter tornado um potencial repórter de imagem.
A lógica dos "bairros sociais" é frequentemente uma lógica de economicismo imediato que não tem em conta a integração de populações carenciadas/ excluídas e que tem apenas o objectivo de fazer desparecer as "barracas" num passe de magia (frequentemente, eleitoralista). Mas os problemas, esses, ficam subjacentes.
Permito-me relembrar o que aqui escrevi, em Fevereiro:
"[...] Quanto à habitação social, tem havido um desinvestimento e um desinteresse da parte das autoridades locais e centrais que têm permitido a criação de zonas habitacionais extremamente degradadas e /ou a degradação do parque habitacional existente. O não cumprimento dos programas de realojamento social conduz à eternização de situações de extrema carência que em nada beneficiam a comunidade local. Por outro lado, colocar os bairros sociais em zonas periféricas contribui e reforça a tendência para a sua marginalização e para a perda de autoridade do Estado.
Os grandes motins que assolaram as cidades francesas no Outono de 2005 são reveladores de um grande mal-estar. Esse mal-estar existe também em Portugal, o que não existe aqui, é o fermento agregador da religião. É que em França, muitos destes problemas são ocasionados pelas segundas e terceiras gerações de imigrantes magrebinos. Em Portugal, os emigrantes encontram-se divididos pela sua origem étnica o que de algum modo tem evitado grandes as explosões.
Esta questão tem que ser pensada e discutida até porque não existem soluções fáceis e, adiar esta discussão é adiar o problema e contribuir para o reforço de epifenómenos como a criminalidade e a xenofobia."
De acordo com o Público, Fernando Negrão (PSD) acusou, hoje, o Executivo de desvalorizar acontecimentos como as tentativas de agressão a juízes, ou os confrontos com armas de fogo ocorridos na Quinta da Fonte. A verdade é que a desvalorização destes actos será sempre uma tentação demasiado grande para as autoridades relutantes em enfrentar a raíz do problema.

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