domingo, 6 de julho de 2008

A Metamorfose

Robert Mugabe foi o símbolo da luta anti-colonialista na antiga colónia britânica. Hoje, é o símbolo da opressão do seu povo mas, apesar disso é pouco provável que os seus pares no continente africano assumam as críticas que a comunidade internacional lhe vem tecendo.

Há um nítido contraste entre o projecto de resolução que do Conselho de Segurança da ONU procurava negociar e, que prevê um embargo às armas e sanções contra as pessoas acusadas de terem impedido o “processo democrático” no Zimbabué. E a forma como Mugabe foi acolhido na cimeira da União Africana. “Nós acolhemos Mugabe como um herói. Ele foi eleito, ele discursou, ele está aqui connosco. Ele é presidente.” – disse o Omar Bongo, presidente do Gabão.

Quantos líderes africanos foram chegaram ao poder depois da realização de eleições livres? Dos 53 países que compõem a União Africana quantos ocupam o poder da mesma forma que Mugabe?

Quantos assumiram o poder com maiorias tão absolutamente duvidosas como a de Mugabe? Zine El-Abidine Ben Ali, da Tunísia, obteve 95% dos votos. Hosni Moubarak no Egipto, Omar Al-Bachir no Sudão, Obiang Nguema na Guiné-Equatorial todos obtiveram resultados esmagadores e improváveis nas eleições. E depois há os que perduram e se eternizam à frente dos destinos dos seus povos: Blaise Compaoré, do Burkina Faso, Yoweri Museveni, do Uganda e Yoweri Museveni, da Tunísia são presidentes desde 1987; José Eduardo dos Santos, presidente de Angola há vinte nove anos, Lansana Conté, presidente da Guiné Equatorial há vinte e quatro anos e, o presidente Bongo do Gabão no poder desde 1967…

Para estes dirigentes a legitimidade da eleição de Mugabe não estaria sequer em cima da mesa se não fosse a insustentável crise no Zimbabué. Com uma inflacção fora de controlo, a moeda em queda livre, problemas para alimentar a população o Zimbabué tornou-se numa ameaça para os seus vizinhos. Os recentes incidentes xenófobos, na África do Sul, foram um aviso para o que poderá acontecer se a crise humanitária e política no Zimbabué não for resolvida com brevidade.

No entanto, alguns líderes africanos receiam censurar abertamente Mugabe pois, este tem usado o trunfo do seu passado de combatente nacionalista e tem procurado capitalizar a imagem do dirigente africano resistente às investidas do poder colonial branco personificado pela Inglaterra. Ora, poucos dirigentes africanos querem correr o risco de aparecer como aliados “dos brancos”.

___________

1- Vale a pena ler a entrevista dada por Mugabe ao Jornal de Angola, de hoje :

“Quero saudar o povo angolano e o meu irmão herói, Presidente José Eduardo dos Santos, e agradecer à sua solidariedade com o povo do Zimbabwe. Espero continuar a trabalhar juntamente com os angolanos na resolução dos problemas dos nossos países, utilizando a experiência revolucionária para vencermos o neocolonialismo. […]”

2-Canal de [Moçambique on line], Opinião,por Noé Nhantumbo, HERANÇAS CONDICIONANDO O PRESENTE

3- Ver como se fabrica um resultado eleitoral favorável, video do The Guardian

3 comentários:

David R. Oliveira disse...

Minha amiga,
este seu texto é, como gostam de dizer, é "muito complicado".Isto dá para para mangas e ainda sobra pano para fazer uns lençóis.Onde nos levaria esta conversa... mas não vale a pena, acho eu.
Esquecendo tudo o mais atenhamo-nos no seguinte:
onde estão os zimbabweanos? a coragem acabou-se-lhes a partir do momento em que o alvo deixou de ser "o branco" - colonialista?!
Fome?!!! no Zimbabwe!!! porquê?!em 1978 a Rodésia exportava muito. Produtos agrícolas a Rodésia e a África do Sul eram os maiores exportadores de produtos agrícolas de África.
É a vida!!!e...
solidário serei com o "meu vizinho" aqui do lado que não tem emprego (e quer trabalhar) e tem dois filhos pequeninos.
Que se aguentem!(é o que nós fazemos)
Cumprimentos
David

Anónimo disse...

A cada povo o que cada povo merece.
Nós merecemos um inginheiro e um governo de iminências pardas, com destaque para essa insigne figura que é a ministra da educação.
A nulidade é tão grande, que quando começamos a analisar os ministros um a um, vamos concluindo que o último é pior que o anterior, e quando chegamos ao fim, obtemos o resultado paradoxal: o primeiro ainda é pior que o último!?! Eis a matemática socretina em todo o seu esplendor!...

CJBR1966 disse...

O poder corrompe, ninguém deve estar no poder mais que 10 anos. O senhor Mugabe devia ser obrigado a pôr os papéis para a reforma e sair de cena....
Com a idade que ele tem devia era estar em casa de pantufas a relembrar-se do seu papel de libertador do povo e não fazer disparates que aprisionam o seu POVO.