domingo, 25 de outubro de 2009

Leituras da fé


Ao contrário, do que possa parecer esta mulher não está a ser salva. Está a mergulhar voluntáriamente na lama, numa demonstração de fé. Trata-se de uma cerimónia de purificação organizada no México para comemorar o nascimento de Niño Fidencio (1898-1938), um curandeiro tradicional, venerado como um santo no norte do México, a quem continuam a ser atribuídas "curas milagrosas".

Não sou uma mulher de fé por isso, nesta imagem mais não vejo que um acto insano de alguém de joga a sua vida contra a probalidade de ser engulido pela lama. Mas não posso, racionalista como sou, deixar de reconhecer que em momentos como este há uma espantosa superação do humano que permite inverter a "tendência" e, remover montanhas - no caso, permite escapar viva à lama.

Ao longo da história, as religiões foram motivo para as mais terríveis atrocidades mas, permitiram também saltos civilizacionais que de outra forma não teriam ocorrido. As recentes declarações de Saramago sobre o Antigo Testamento suscitaram uma polémica algo desajustada. O Antigo Testamento, é um livro religioso mas é também crónica e literatura. Escrita ao longo de mais de quinze séculos, a Biblía, reflecte as transformações da economia, da sociedade, da administração, da literatura e da religião judaica.
A história de qualquer povo convertida em livro religioso de referência só pode mesmo dar origem a uma espécie de "manual de maus costumes" mas, mesmo para alguém como eu, a Biblía (Antigo Testamento) é mais do que isso, bastará dizer que foi o primeiro caso de uma religião e de um povo monoteísta que o utilizou o seu livro sagrado para eternizar as suas dúvidas, as suas interrogações, os seus cânticos, as suas conclusões.
Por isso, atendo-me apenas às declarações que o livro não o li ainda, esperava mais do criador do Sete Sóis e da sua Blimunda... esperava que atingisse a dimensão simbólica de muitos dos episódios narrados em lugar de se limitar a uma interpretação literal empobrecedora...

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