quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Berlim, Lisboa vinte anos depois (1)


O muro, o grande e intransponível muro símbolo da Guerra Fria e da desunião da Europa caiu, há vinte anos.

Passaram-se pois, vinte anos sobre o impensável. Caiu o muro e, como um castelo de cartas, uma após outra, desmuronou-se um império construído sobre uma ideologia com pés de barro e contra a vontade dos povos.

Uma Europa, dois mundos diferentes. Lembro-me do dia em que transpus o muro para o lado de lá. Para o Leste em direcção à sinistra capital do Império. O contraste entre o buliço de Berlim (RFA) e o silêncio das ruas de Berlim (RDA). Parecia que estava a viajar no tempo. As casas, as ruas, os automóveis, as roupas -que me lembravam as que anos antes tinham sido "moda"... Era a única passageira de uma carruagem de combóio mas, nem por isso dispensaram o aparato intimidante de soldados, metralhadoras e cães. Estávamos em 1985, o muro ainda estava de pé.

Deixei uma sociedade de consumo, cheia de desigualdades e contradições, onde os povos eram livres de escolher o seu rumo e, "aterrei" numa sociedade de penúria quase generalizada onde qualquer veleidade de escapar "à massa" informe do socialismo e escolher um caminho próprio era olhada com a intolerância com que se olham os traidores.

A oeste uma sociedade de informação que tinha como regra a liberdade de expressão. A leste, uma sociedade que controlava e instrumentalizava sistematicamente a informação. Nem assim, utilizando os métodos que inspiraram Orwell, lograram granjear o "apoio popular". Finalmente, o vazio sobre o qual se alicerçou o império soçobrou arrastando consigo o temível muro.

Quem via as manifestações que enchiam as praças em alegres vivas à nomenklatura dificilmente poderia prever o final... As manifestações de apoio são o que são. Valem o que valem. As manifestações de apoio ao totalitarismo são, de facto, resultado do medo colectivo de ser preso, de desaparecer, de ser impedido de estudar ou trabalhar, medo de ser preterido na escolha do almejado automóvel ou apartamento ...medo. (cont.)

2 comentários:

Monte Cristo disse...

Que porra! Tanta gente a falar do Muro, sem saber o que era o Muro, ou sabendo, apenas, pelo que ouve dizer aos que vivem dentro de grandes e inexpugnáveis muros (os das casas-fortes, os da comunicação social controlada pelos donos das mesmas casas-fortes, e os do sistema político que protege os donos das casas-fortes).

Porque se não ralam estes arautos da liberdade com o muro que os nazis sionistas estão a erguer na Palestina?

Monte Cristo disse...

Que porra! Tanta gente a falar do Muro, sem saber o que era o Muro, ou sabendo, apenas, pelo que ouve dizer aos que vivem dentro de grandes e inexpugnáveis muros (os das casas-fortes, os da comunicação social controlada pelos donos das mesmas casas-fortes, e os do sistema político que protege os donos das casas-fortes).

Porque se não ralam estes arautos da liberdade com o muro que os nazis sionistas estão a erguer na Palestina?