sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Camões e o vinho do Seixal





No seguinte fragmento de uma composição satírica em prosa e verso, Luís de Camões, descreve uns jogos de canas, com que na cidade de Goa se festejou a sucessão de Francisco Barreto no Governo daquele Estado. Camões, procurando mostrar que todos os foliões eram sacerdotes de Baco, parvos ou homens perdidos:



“[…] Mas outro galante, que de fino bêbado já passava os limites do bom e costumado beber, tirou por divisa uma palmeira; árvore que entre os Antigos significava vitória; e ao pé dela alguns ramos de vides e de parreiras pisadas; e dezia a letra assim:


Ficai vencidas, sem glória
Vós vides e vós parreiras;
Porque os ramos das palmeiras
São os que têm a vitória.


Também aqui não faltaram praguentos, que quiseram dezer que este devoto [de Baco], deixando já atrás Portugal, cometia com valeroso ânimo Orracas [aguardente de arroz] e Fullas [vinho doce de palmeira], tendo em pouco Caparicas e Seixais. Mas quem há que fuja de más-línguas, ou mal acostumadas gargantas?”

Obras Completas de Luís de Camões, Lello e Irmãos, 1970, p.1117 (adaptado)


“O vinho produzido nos campos da Amora era de excelente qualidade, pois, quando no início do século XVI, Garcia de Resende e Gil Vicente destacavam o vinho do Seixal pela sua qualidade, e Gaspar Frutuoso o apontava como o melhor do Reino, era ao vinho produzido nas terras do território do Concelho do Seixal que se referiam. Este produto agrícola já era exportado no século XVI, como nos sugere Garcia de Resende na sua "Miscelânea". Ora, tendo em conta esta informação “roubada” aqui, será possível que já no longínquo séc. XVI as produções de Amora (na época, termo de Almada) fossem confundidas com o “Seixal”?


Seja como for, os vinhos do “Seixal” foram muito apreciados até que em meados séc. XX deixaram de haver quintas para os produzir.

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