domingo, 9 de novembro de 2008

O que ele não disse


Falando sobre os desafios que a crise financeira trouxe para a Europa Durão Barroso, afirmou que “Uma coisa é clara: não há nenhuma ‘auto-estrada’ para fora da crise – as nossas economias estão demasiado interligadas. E o proteccionismo não é também solução. Há forças políticas que estão a usar esta crise para fazer o tempo andar para trás. Para questionar as sociedades abertas. Para impor receitas falhadas baseadas em ideias falhadas. Por isso eu quero deixar uma coisa clara: a solução não está no passado, está em olhar para o futuro.”

Muito interessante este discurso de Durão Barroso, sobretudo, pelo que não diz: quais são as “receitas falhadas” e, quem questiona as “sociedades abertas”?

À primeira vista, até porque o discurso foi proferido em Itália, Barroso estaria a enviar uma “indirecta” a Berlusconi que tem anunciado um pacote de medidas proteccionistas e, cujo apego aos valores democráticos é muito questionável. Mas, poder-se-ão estender estas preocupações de Durão Barroso a outros membros da Comunidade Europeia? Eu diria que sem dúvida. Olhemos, apenas, para o caso de Portugal.

Portugal, está cheio de sinais preocupantes: tentou-se converter a “nacionalização” numa simples decisão do governo; os militares descontentes advertem que “podem fazer loucuras”; os responsáveis governamentais não se eximem a condicionar a informação (através dos assessores, através de telefonemas pessoais do acesso condicionado a dossiers e notícias e, em último caso, com a qualificação pouco digna de ‘jornalismo de sarjeta’…); foram instaurados processos contra manifestantes, os sindicatos foram visitados pela polícia em vésperas de protestos… mais, perante a mega-manifestação de professores realizada ontem em Lisboa o que disse a senhora ministra e o senhor PM? Que preferem continuar “inflexíveis” e, orgulhosamente sós, a ponderar uma solução que sirva para melhorar a qualidade do ensino.

Tudo isto parece ser aceite com o mesmo “encolher de ombros”, com que se aceita a normalidade, mas há aqui um potencial de risco para a qualidade da nossa democracia que não deveria ser subestimável. E é por isso, que também, se estranha, a pacatez e, falta de sentido crítico da comunicação social, ela própria, refém das notícias, da publicidade e, dos concursos para novos canais de televisão...

1 comentário:

joshua disse...

Absolutamente bem posto. Não podia estar mais de acordo.

É muito natural que a dualidade de criteria que determina a falsificação da Justiça e o controlo dos media a favor dos interesses e das políticas governamentais venha a romper o capital de paciência de uma mancha cada vez mais alargada de sectores da nossa sociedade. A tirania e os modelos tirânicos de imposição de políticas abrem brechas severas por todo o lado.

Já não chegava o falhanço das políticas económicas, de desenvolvimento e de bem-estar, também tinham de colocar a mordaça às liberdades em favor de uma transparente informação.

É a Guerra!