terça-feira, 14 de outubro de 2008

As vozes do descontentamento


“Os movimentos de professores agendaram para 15 de Novembro em Lisboa um protesto contra o modelo de avaliação de desempenho que está a provocar um “enorme cansaço e saturação” entre a classe. A iniciativa está a ser divulgada através de blogues, mensagens de telemóvel e correio electrónico, o lema de protesto da manifestação é “uma escola, um autocarro”.” In, Público

Numa altura em que dentro da escola os alunos estão em segundo plano porque o que realmente parece importar é avaliar os professores. Objectivo, melhorar as práticas pedagógicas? Não. Melhorar as estatísticas. Todo o sistema está concebido para que os alunos passem pelo sistema de ensino em pouco tempo (não nos esqueçamos que tempo é dinheiro), não interessa as competências que adquirem. Interessa que estiveram no sistema e que depois de preenchidos planos e requisitos foram chutados para cima….

De há muito que a escola se vem tornando um reino de burocratas. Os professores foram escravizados primeiro pelas “cruzinhas”, depois pelos relatórios, agora pelas estatísticas. Mais, hoje são coagidos a comprometerem-se a fazer coisas que estão muito para além das suas possibilidades: alguém me diz, como é que eu impeço o “abandono escolar” dos alunos (e, particularmente, das alunas) de etnia cigana, no segundo e terceiro ciclo, quando as outras entidades responsáveis e competentes não impedem o casamento de “noivas” de doze anos (tenho várias alunas nessa fase)? Do mesmo modo, que ninguém impede os rapazes de se dedicarem à "venda"? Ora, então porque me hei-de eu, de comprometer com a redução do abandono escolar? Porque razão esse deve ser um dos meus objectivos?

Se a burocracia continuar a invadir a escola, a este ritmo, dentro em breve nos darão os planos de aula e controlarão ao pormenor os recursos utilizados, as estratégias implementadas etc. Pior, isso será feito por quem nunca deu uma aula e, que tal como os treinadores de sofá, se julga o melhor do mundo…

1 comentário:

Anónimo disse...

Os srs. Professores desculpem, mas como esperar o apoio dos Pais se, depois da manifestação dos 100 000 foram ordeiramente para as escolas cumprir as ordens do ME,mesmo sabendo que, com essa atitude subserviente, iriam prejudicar os alunos? O que fizeram ao vosso tempo nas Escolas? Trabalharam para os alunos, mostrando aos pais que o que vos move são os alunos ou dedicaram-se a “cumprir o mandato”, como qualquer deputado, e ajudaram a ministra a manipular a estatística? 100 000 não seriam suficientes para mandar a papelada para o lugar certo, justificando a “desobediência” em massa com o Fundamental desígnio do Professor, que é estar 100% disponível para os seus ALUNOS? O que foi que vocês fizeram? Mandaram a ética profissional às urtigas? Recusaram-se a fazer o que não compete ao Professor? Agiram de acordo com a vossa consciência? Ou apressaram-se a obedecer à “disciplina partidária” para não perder o tacho? Não foi isso? Pois foi isso que transpareceu. Se não é essa a imagem que querem que fique, mudem-na. Se não, não há Mega-manifestação que vos dê a razão que tiraram a vós próprios quando cederam a quem “quer destruir a escola pública”.Se vocês deixam…