segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Barril de pólvora no Cáucaso (3)


A Guerra na Geórgia pode incendiar, uma vez mais, esta região. A situação geográfica, geopolítica, os antecedentes históricos e, o facto de ser um factor muito importante para a segurança energética justificam a preocupação. A história da expansão russa foi marcada pela determinação em aceder ao mar. A um mar que oferecesse garantias de navegabilidade ao longo de todo o ano. Potência continental por excelência, a sua grande fraqueza residia precisamente no acesso ao mar. Por isso, a Rússia, se empenhou desde cedo em colonizar e dominar a região. Algumas dos mais marcantes e sangrentos episódios da história russa (abundante como se sabe, neste tipo de episódios) passam-se precisamente, no Cáucaso. A Geórgia integrou a antiga União Soviética e a exemplo do que se passou em outras repúblicas, os georgianos foram tratados como hóspedes na sua própria terra (este conflito além de tudo é um conflito de pessoas). A sua língua e tradições foram relegadas para segundo plano e para as fotografias oficiais. Por isso, não é de estranhar que finda a irmandade, a Geórgia quisesse a sua independência mas, os antigos “colonos” russos ficaram em maioria em algumas regiões (porque expulsaram os residentes georgianos/ossetas). Tornaram-se no “cavalo de batalha” da região, declarando a sua independência e envolvendo, sempre que possível, o “grande-irmão”.

Se a capacidade do Kosovo para ser um estado viável, em termos económicos, é questionável, a capacidade da Osséssia do Sul e, da Abecásia ( ou daTransnistria na Moldova) , ainda são mais questionáveis já que se trata de pequenos enclaves mas, à Rússia para além da questão humanitária interessa a criação de estados tampão contra as influências da EU e da NATO. Da mesma foram, que à EU e NATO interessam estados como a Geórgia (candiata à EU e NATO) entendidos como tampão relativamente à Rússia.

Não esqueçamos que o factor “petróleo ” é chave na região. Prevê-se que em 2009 um milhão de barris de petróleo (além do gás) passem diariamente pelo oleoduto* que passa por Tbilisi, isto é, a dois passos da Osséssia do Sul (este oleoduto é parte de um consórcio entre companhias petrolíferas da Grã-Bretanha, EUA, Turquia, Noruega, Azerbeijão, França, Japão, Itália). A Geórgia, sente-se confiante na sua importância vital como garante da segurança energética, resta saber até que ponto é negociável.

Ambos os lados se queixam de agressão. Não saberia, com justiça, estabelecer o culpado. Não posso excluir que a agressão tenha partido, efectivamente, da Geórgia pois, no contexto de irracionalidade/emotividade que o “território” gera, tudo é possível. O que me espanta é que se as hostilidades partiram da Geórgia, esta não tenha antecidado que a Rússia só precisava de um pretexto para intervir, realizando o seu próprio “anschluβ”. A Rússia, é o único possível beneficiado com esta guerra uma vez que poderá servir para esmagar militarmente a Geórgia (vide, A Arte da Guerra), ver reconhecida a soberania de dois “estados-satélites” na região ao mesmo tempo que mostrarará que a aceitação da Geórgia na NATO tem os seus riscos. Neste cenário, o reconhecimento da independência do Kosovo seria, ainda assim, favorável à Rússia.
• Que poderá ser um dos atractivos económicos desta guerra.

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