Ocasionalmente leio o Jornal de Angola, tal como faço com outras publicações de outros países. Angola, está em plena campanha eleitoral para o que deveriam ser as suas primeiras eleições livres. Ora, uma das condições sine qua non para a realização eleições livres é a pluralidade de opiniões, o debate e, da parte do Estado, a total isenção. Ora, tenho reparado (sem surpresa) que por parte deste jornal (E.P) impera uma visão unilateral da realidade angolana.
A leitura da rubrica “palavra do director”, publicada hoje, é sintomática desta realidade, leiam-se as seguintes pérolas:
“Se o eleitorado tivesse de votar em projectos e propostas políticas consentâneas com a realidade nacional, as eleições estariam à partida decididas.
À excepção do MPLA, […], a campanha eleitoral está caracterizada por um amontoado de fantasias despojado de propostas alternativas.
O partido que proclamou a independência, abriu o país ao regime democrático e à economia de mercado, dá estabilidade à governação e organizou eleições de maneira exemplar, mostra deter uma visão sólida de Estado que não encontra paralelo.
[…] a produção audiovisual de algumas formações políticas foi entregue a jovens na idade e imaturos na preparação política [excelente argumento retirado, certamente, da campanha de MacCain]...
Espaço onde melhor se expressa a qualidade (ou falta dela) dos dirigentes dos partidos políticos que temos, os tempos de antena mostram que não se domina o elementar da política. […] É o que acontece com as formações constituídas por jovens [o que me parece estranho é que o autor deste texto não percebe que não é tanto a "qualidade política dos jovens" que está em causa mas, a falta de qualidade da democracia angolana].
Quanto aos tradicionais, a FNLA continua igual a si mesma e a UNITA apostada na mensagem para o exterior.
Para quem defende que acima de tudo estão os angolanos, não se percebe porque Samakuva trouxe a Angola personalidades estrangeiras para anunciar o projecto “Angola sem Fome” [talvez, digo eu, porque ainda exista FOME em Angola], com que pretende marcar a próxima legislatura se vencer as eleições. Entre os convidados, estavam membros do antigo “lobby” da UNITA em Portugal. Samakuva sabe que eles se encarregarão de continuar a espalhar no mundo a imagem falsa de que Angola é um país de miséria e corrupção [mas ninguém vai acreditar, pois não?]. Samakuva não se importou também de confirmar que o seu projecto foi “copiado” do estrangeiro (o Rendimento Mínimo Garantido, de Portugal?). As coisas boas são para “copiar”, disse ele. Assim se vê como é difícil compatibilizar as palavras com os actos políticos.”
Este é apenas um dos artigos, hoje publicados, que é marcadamente favorável a uma das partes envolvidas num confronto eleitoral. De resto, todo o Jornal propriedade das Edições Novembro-E.P denuncia uma flagrante e indesmentível parcialidade. Posso, apenas,imaginar o grau de intoxicação da opinião pública e a imensa pressão a que estão sujeitos todos os elementos da oposição nestas circunstâncias. E só pela leitura deste jornal ( e dos despachos da ANGOP) se poderá afirmar que as eleições em Angola não serão livres nem justas porque o acesso à informação é, claramente, parcial.
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O mercado publicitário em Angola está a aumentar... por estas e por outras é que o silêncio é a "alma do negócio"...
3 comentários:
Por razões que desconheço este comentário de DAVID OLIVEIRA foi publicado noutra mensagem ( ver,
Inconfidências):
Tem toda a razão mas não será necessário ir para tão longe. Ou não tem por cá, todos os dias, na nossa CS muitos exemplos desses ou piores se considerarmos que o nosso estádio de apuramento democrático deveria ser melhor? (pelo menos é mais antigo e mais estável...)
mas deixe que lhe diga onde lhe encontro o erro para tamanha preocupação. Me parece que está a raciocinar sobre uma realidade (que não é nem de perto nem de longe semelhante àquela a que está habituada e que vivencia) com idênticos pressupostos. Não deve, Hekate!
ora diga-me se supõe que em Angola poderão existir "eleições democráticas"?!se supõe ser possível está redondamente enganada (e está enganada porque não tem a mínima noção do que é ANGOLA hoje) se não acredita está a perder tempo. Ou teríamos de discutir sobre o que é, hoje, um regime democrático. Angola?!...eleições livres?!... democracia?!...ó Hekate não me faça rir...isso são tricas entre duas dúzias de "kamundongos" calcinhas que sabem ler e escrever de Luanda e que têm de Angola uma noção que começa na Av. Marginal e que acaba para sul no Futungo de Belas e para o interior em Viana.
Sempre a considerá-la
David
22 de Agosto de 2008 16:38
Caro David,
Não tenho ilusões quanto à Democracia angolana. Mas penso que o silêncio conivente/coberde/conformado só pode beneficiar quem se tem aproveitado do aparelho de Estado de Angola para proveito próprio.
Nem sequer há pudor na utilização dos meios públicos. Não há distinção entre o aparelho de Estado e o partido de governo. Mas isso, aparentemente não incomoda ninguém. A mim incomóda-me.
hkt
Não é só à informação que não há um igual acesso, é em relação a tudo o resto, das Hi-Ace azuis aos Hummer reluzentes de comum só as mesmas estradas esburacadas e cheias de lixo (bom, agora menos).
A sociedade angolana é a hipocrisia levada ao seu estado mais puro. Uma farsa internacionalmente tolerada pelo Petróleo e pelos Diamantes.
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