terça-feira, 19 de agosto de 2008

Eterno retorno (3) - xenofobia

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As consequências da guerra na Geórgia fazem-se sentir muito para além do seu território. Fazem-se sentir no próprio interior da Rússia onde vivem cerca de um milhão de georgianos. A imprensa russa dá conta da abertura de uma caça às bruxas (no caso espiões), de ataques a cidadãos/estabelecimentos georgianos (cafés, restaurantes, taxistas) … e até, da sugestão do Movimento Contra a Emigração Ilegal, de que estes fossem colocados em campos.

As declarações de responsáveis políticos e militares em nada ajudaram a imagem dos georgianos que vivem na Rússia. Antes pelo contrário, tornaram-nos na minoria que está a servir “interesses americanos” em mais um revivalismo da guerra fria.

As autoridades russas, têm desde sempre primado pela ausência de real condenação e punição dos responsáveis pelos ataques xenófobos de que são vítimas os muitos emigrantes de todas as proveniências residentes na Rússia, por isso, não é de esperar que agora (precisamente, agora) saiam em defesa dos georgianos. Contudo, no preciso momento em que o nacionalismo russo parece evoluir para terrenos perigosamente próximos da xenofobia, não deixa de ser curioso que a maior parte dos atletas medalhados nas olimpíadas de Pequim não são etnicamente russos.

Este conflito pode, igualmente, ter implicações para os russos que vivem nos países limítrofes. A acérrima defesa dos cidadãos detentores de passaporte russo na Geórgia, já levou a que o governo e o parlamento ucranianos falassem de preocupação face aos numerosos casos de cidadãos com dupla cidadania (o que até aqui era tecnicamente ilegal, mas prática corrente). Já foi anunciado um inquérito para determinar quantas pessoas na Ucrânia estão nesta situação, uma vez que este pode ser um pretexto para determinar uma intervenção militar Russa(Gazeta.24).

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"O alto-comissário da ONU para os Refugiados, António Guterres, pediu hoje à Geórgia e à Rússia que permitam a abertura de um corredor humanitário na Ossétia do Sul, onde dezenas de milhares de pessoas não têm acesso a alimentos e assistência médica devido ao conflito na região." Texto integral

"Ukraine is investigating claims that Russia has been distributing passports in the port of Sevastopol, raising fears that the Kremlin could be stoking separatist sentiment in the Crimea as a prelude to possible military intervention." Texto integral

"O Consulado Geral da Rússia em Simferopol (capital da Crimeia) distribui passaportes da Federação da Rússia entre os cidadãos ucranianos. Pedimos à parte russa informações sobre a sua quantidade, mas não recebemos resposta”, declarou Ogrizko, numa entrevista ao jornal alemão “Frankfurter Allgemeine”. Texto integral

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