quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Ciganos - os desafios da integração

Outras fotos de ciganos na Rússia, aqui


As medidas repressivas de Berlusconi relativas aos ciganos em Itália têm sido notícia mas a discriminação relativa aos ciganos não se reduz de modo nenhum a Itália. O quadro traçado, sobre a situação dos ciganos na Rússia, pelo Comité para a Eliminação da Discriminação Racial (CERD), da ONU , é sombrio. De acordo com o relatório elaborado pela Federação Internacional das Ligas dos Direitos do Homem (FIDH) e pelo Memorial de Saint-Petersburgo, os cerca de 500 000 ciganos russos são vítimas de graves discriminações. O estudo, intitulado “Expulsões e direito à habitação dos ciganos na Rússia” relata numerosos casos de expulsão de aldeamentos inteiros, de destruição de casas e de campos de estigmatização. Tudo isto num contexto de enorme miséria, e de impunidade total das autoridades russas. Ao contrário de outros grupos étnicos que são frequentemente notícia, na Rússia, devido às agressões xenófobas, os ciganos foram como que apagados das notícias.
O relatório incide na população dos Kelderari (que representa cerca de 30% dos ciganos russos) que mantêm o modo de vida tradicional. Repartindo-se por centenas de aldeias cujas terras são agora, cobiçadas pelos especuladores imobiliários.
A população cigana da Rússia foi forçada à sedentarização a partir de 1956. Nessa altura foram autorizados verbalmente a construir casas mas, não existem registos e essas casas não constam sequer dos mapeamentos locais. As aldeias nunca foram urbanizadas, não dispõem de água, luz nem sequer de ruas … e agora exigem-lhes a destruição das casas ao mesmo tempo que lhes confiscam as terras sem nenhuma compensação. O que está a forçar esta população a regressar ao nomadismo.
As autoridades russas negam o problema e, refugiam-se em argumentos legalistas e “higienistas” para justificar a sua actuação.

Por toda a Europa os ciganos (na sua imensa diversidade) são um desafio à “sociedade normal”. As populações ciganas do antigo bloco soviético são de facto aquelas cuja integração se me afigura mais problemática pois foram submetidas a uma guetização durante décadas (na Checoslováquia, por exemplo, houve mesmo uma esterelização forçada). Para esteas populações o El Dorado situa-se algures entre a Itália e a França que têm sido “invadidas” por ciganos da Bulgária e Roménia, as últimas vagas ao abrigo da legislação comunitária.

O problema dos ciganos é cultural antes de ser racial. Na integração dos ciganos na sociedade “normal” jogam factores como a identidade nómada, a pobreza, o acesso à educação. O facto, de muitos ciganos continuarem a não ser escolarizados irá perpetuar para as gerações futuras os estigmas que atingem esta comunidade hoje. Os ciganos não são “coitadinhos” são cidadãos como os outros que têm os mesmos direitos e os mesmos deveres. Precisarão, quando muito de alguma discriminação positiva mas, sem cairmos em exagerados capazes de gerar subsidiodependências e ressentimentos.

A integração destas populações passa não só pela criação de uma “classe média cigana” e por uma nova geração de “profissionais diplomados” capazes de servir como modelos de integrar no interior e no exterior da sua comunidade.

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