A vitória da Rússia sobre a Geórgia foi esmagadora. Provou que o exército está inteiramente operacional, e do ponto de vista interno foi geralmente bem recebida pela opinião pública russa depois do trauma do desmembramento do império soviético. No plano imediato foi uma vitória da dupla Putin-Medvedev que provaram que a Rússia tem o seu lugar entre as superpotências (curiosamente, ou talvez não, na mesma altura em que a China se arvorou também como tal).
Depois de quase quinze anos em que sucessivas fragmentações aumentaram a percepção interna de vulnerabilidade, ao mesmo tempo, que no plano externo os líderes ocidentais se esforçavam por torná-la num “parceiro digno de confiança”, a Rússia mostrou ao mundo capacidade e determinação para agir e vencer no plano militar. Mas, embora possa parecer a verdade é que não há um “eterno-retorno”. As circunstâncias de hoje são bem diferentes das que existiam em 1968 (Primavera de Praga). Nesta altura, quando as forças do Pacto de Varsóvia invadiram a Checoslováquia, nessa altura, Moscovo não estava isolada nem ideológica, nem politicamente. Os apoios recebidos, em 2008, limitaram-se a Cuba e à Venezuela.
Com esta indiscutível vitória militar, Moscovo, parece, apesar de tudo, estar a falhar objectivos primordiais: derrube de Saakashili e a sua substituição por um governo pró-Kremlin; controlo do oleoduto; manutenção da Geórgia fora da Aliança Atlântica. Relativamente ao primeiro, parece-me, agora, evidente que Moscovo não tinha nenhum nome para substituir Saakashvili, assim sendo, e não podendo manter-se indefinidamente no terreno sem arriscar um cada vez maior isolamento internacional o controlo do oleoduto estará fora de causa. Mais, na medida em que a percepção de ameaça aumentou penso que a Europa tudo fará para, no futuro, diversificar os fornecedores/fontes de energia. Por outro lado, a adesão da Geórgia à NATO (depois de resolvido o problema das regiões da Abecásia e Osséssia) poderá ser a forma da Europa e da NATO ganharem iniciativa política e, fazerem algo de concreto. Aliás, a instalação do escudo anti-mísseis e dos Patriot na Polónia, já são por si só uma resposta, tal como o congelamento da cooperação militar e, a eventual expulsão do G8, ou o boicote aos Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi.
Todas estas medidas poderão contribuir para a sensação de claustrofobia que a Rússia tem sentido tradicionalmente no seu território continental. São os países vizinhos da Rússia que tem dado mais sinais de nervosismo, e nem sequer estou a falar da Polónia, da Ucrânia ou dos países Bálticos. Falo de países “amigos”, como a Bielorrússia, cujo presidente Alexander Lukashenko apesar de continuar a louvar Moscovo ordenou ao seu ministro dos negócios estrangeiros que “estreitasse laços com a EU e os EUA. “ É que a atitude de Moscovo para com as províncias secessionistas da Abecásia e Ossessia, poderá vir a criar sérios problemas às comunidades russas emigradas/ fixadas nos países limítrofes, que já eram “tomadas de ponta” e, que agora serão olhadas como uma ameaça real à soberania e integridade dos países de acolhimento. Até porque os efeitos da invasão na Geórgia se farão sentir na política interna de alguns países onde existem partidos pró-Rússia (grupos de eslavófilos, herdeiros da tradição comunista, grupos económicos com interesses na área das matérias-primas e energia) , que se opõem às revoluções “laranja” e “rosa” e que poderão ser revitalizados o que aumentará a tensão política interna desses países e criará as condições propícias para a “desconfiança” e consequente manutenção do clima de tensões e ameaças na região, com o consequente, do isolamento russo.
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A Osséssia do Sul voltou a pedir a Moscovo o reconhecimento da sua independência. Eis mais uma questão que promete deixar a Rússia isolada no Conselho de Segurança. Alguém está a ver a China (já não falo de outros membros do CS), a apoiar esta pretensão tomada contra o princípio da soberania?
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"Investors pulled their money out of Russia in the wake of the Georgia conflict at the fastest rate since the 1998 rouble crisis, new figures showed on Thursday." Texto integral
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Entretanto a Rússia continua a brincar ao "faço que retiro mas não retiro".
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