quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Recordações da Abecásia

Estação de caminhos-de-ferro na capital da Abecásia. Antes um popular destino de férias actualmente completamente ao abandono. Mais imagens desta capital, ver aqui.


Este texto foi escrito por um blogger georgiano, Cyxymu, que cresceu na Abecásia e que actualmente vive em Tbilisi, tendo-se tornado num “deslocado interno” [internally displaced person IDP] desde o iníco dos anos 90. Esta é uma história de vida como existirão nesta região muitas outras semelhante. Esta ,mais do que a história de um georgiano é a história de uma pessoa (não importa a origem, nem o tempo) que está impedida de regresssar à sua terra.


"Eu sonhei que eu estava subindo as escadas para o sótão, e era tão agradável de ouvir a chuva a cair. Meu irmão e eu fomos até lá ouvir a trovoada. […]
Eu também gostava de me esconder na garagem, meu irmão e eu tivemos nosso quartel-general ali, a garagem tinha um tecto de metal e a chuva escorria pelas goteiras...

Às vezes, quando o Besletka [rio] aumentava durante uma tempestade, havia inundação. A água entrava na adega e tínhamos que salvar os nossos víveres. O nosso heroísmo era depois recompensado com o doce de fruta que a avó fazia.
Na cave, tivemos esconderijos para todo o tipo de coisas. Mesmo antes de sairmos escondemos uma mira óptica que encontrei nesse mesmo dia. Na parte de trás da casa havia um galinheiro, e um galo acordou-nos como todas as manhãs […] . Às vezes ia caçar ratos no galinheiro, e gostava de caçá-los com um pequeno calibre Geco. […].

No jardim crescia tudo o que era necessário para a vida humana: dois tipos de pêras, maçãs (champanhe e inverno), … ameixas … , dois tipos de figos e cerejas. Os pessegueiros plantados com minhas próprias mãos. E tomates, pepinos, framboesas, morangos (,,,). Os pepinos gostavam de subir pelas framboesas [confundindo-se com elas], e nós, às vezes, perdido um pepino, uma vez que não era possível vê-lo sobre o verde, deixávamos que se transformásse num grande pepino amarelo. Depois o avò diria: "Bom, está bem, vamos usá-lo para sementes no próximo ano."

Todos os anos na primavera, ele plantava as sementes primeiro em latas e, depois, ele voltava a plantá-los em caixotes de madeira, depois na estufa.[…].

Durante [a guerra], quando uma bomba da Abecásia caiu próximo lado abateu um ramo da macieira tão grosso como um braço, algumas das outras árvores também perderam ramos, eu dizia que as árvores nos tinham protegido ...

O Shrapnel [bomba de fragmentação]destruiu então toda a casa, peças voaram na janela do quarto onde dormiam os avós e, milagrosamente não lhes tocaram, os fragmentos penetraram as paredes, rasgaram o tecto, partiram todos os vidros da casa... Mas nós, não fomos para uma casa da Abecásia, em vez disso, colocámos novos vidros e arranjámos o tecto. Pensando no que poderia acontecer colámos cruzes da papel branco nas janelas ...

O meu coração, sente mais saudades dessa casa do que qualquer outra, apesar de, existirem casas e apartamentos melhores em Sukhumi. Mas, o meu coração ficou para trás nessa casa.

E, mais do que qualquer outra coisa eu não posso perdoar a mim mesmo deixar para trás os meus avós – quando saímos de Sukhumi, eu esperava voltar dois dias depois.

Mas, ninguém da minha família pôde voltar a Sukhumi para os funerais dos meus avós. Simplesmente, não fomos autorizados a regressar."

Dom [lar]

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