sábado, 30 de agosto de 2008

O preço da segurança



Nas últimas semanas o país foi palco de vários crimes alguns com contornos muito violentos. As explicações clássicas para a violência e a criminalidade remetem-nos para a pobreza e a exclusão social dos meios (sub)urbanos e para a falta de estruturas sociais de apoio, nomeadamente, aos jovens.

Os espaços urbanos degradados e os bairros sociais oferecem boas condições para um “caldo de cultura” da violência e da criminalidade: bairros “problemáticos”; exclusão social (em crescendo); desemprego; toxicodependência…

Quanto às estruturas sociais de apoio, elas revelam-se muito frágeis. Nem Estado, nem autarquias, nem privados têm feito o devido investimento. Investimento que deveria ser feito, prioritariamente, nos jardins-de-infância e nas escolas, através da criação de equipas multidisciplinares que permitissem a prevenção de comportamentos de risco de forma integrada englobando sempre que possível não só os jovens mas as próprias famílias. Ora, escusado será dizer que nada disto tem sido possível fazer por falta de investimento e de vontade (clarividência) política. Este desinteresse por largas franjas da população gera sentimentos de rejeição e acusações frequentes de “racismo”.A estas franjas da sociedade não lhes é dada uma oportunidade para ascender socialmente da forma considerada “correcta”, assim, nada mais lhes resta que viver de esquemas ou, atingir o “estrelato” através de práticas criminosas capazes de lhes conferir uma glória efémera – as páginas do h5, em que jovens se apresentam hostentando armas, são apenas mais uma oportunidade de atingir esta “glória fácil”.

O problema da criminalidade é também um problema de sistema de valores. É um problema que poderia ser atenuado se houvesse uma intervenção precoce sobre o problema. Neste aspecto, o papel da escola, poderia ser muito importante. A desautorização dos professores e das forças policiais e, o relativo descrédito da Justiça é nociva para a sociedade. O sentimento de impunidade resultante das “tropelias” feitas na escola, pode evoluir, facilmente, para o sentimento de impunidade relativamente a actos criminosos. Em algumas escolas os furtos fazem parte do dia-a-dia. Detectado o ladrão que lhe acontece? Nem sequer é possível assegurar um mecanismo que obrigue à devolução do valor do furto. Porque a família é carenciada, porque não pode … mais do que em qualquer outra ocasião na vida o trabalho comunitário seria educativo. A tudo isto, haverá que somar a cultura de “gang”, a banalização da violência e, a facilidade com que se adquirem armas de fogo no mercado paralelo.

Penso que estamos num ponto de viragem. A situação é, ainda só, preocupante. Que estamos, nós, todos a fazer para que ela não se torne desesperada?

Aumentar o número de efectivos policiais e os meios ao seu dispor, aumentar as acções espalhafatosas de vigilância em determinados locais, anunciar a melhoraria das leis penais são alternativas de curto prazo. Mas, é preciso fazer mais:

  • O que tem sido feito para que os jovens de “bairros problemáticos” encontrem alternativas à “cultura de gang”?
  • O que fazer com os bairros sociais que manifestamente não cumprem a sua função de integração de populações carenciadas?
  • O que tem sido feito para dar alternativas de vida aos toxicodependentes, aos sem-abrigo?

  • Poderá parecer-nos que as respostas a estas questões implicam um elevadíssimo investimento público e privado.

Preferiremos nós pagar “prisões”? Mas qual o preço da segurança? Qual o preço que queremos pagar pela segurança?

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E, já que Jerónimo de Sousa, falava no Seixal, talvez lhe devêssemos perguntar, especificamente, o que tem sido feito neste concelho (de maioria PCP/CDU) para resolver os problemas da criminalidade nos bairros da Boa-Hora, Cucena, Quinta da Princesa, Jamaica (em cima na imagem), Stª Marta de Corroios, Miratejo? Como tem sido resolvido o problema da habitação social? Que investimento real tems ido feito nas escolas (não falo das prendas inúteis que oferecem esporadicamente à miudagem, falo de apoio a projectos concretos nos diversos agrupamentos)? O que tem sido feito para promover a integração social da população mais carenciada (para além, do folclore que pode ser fotogénico e eleitoralmente rentável)?

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