O presidente Medvedev reconheceu hoje (como se esperava, a Duma russa nunca ousaria propor o reconhecimento das repúblicas separatistas se não tivesse o total aval da dupla Medvedev-Putin) a Osséssia do Sul e da Abecásia como estados independentes*. Elevou assim, o seu desafio face à NATO e à U.E.. No plano interno, imediato, não tenho dúvidas que esta virilidade do presidente agradará a muitos nostálgicos dos tempos da União Soviética e de alguma maneira este cenário era previsível, não só pelos discursos de Putin (nos últimos meses da sua presidência) e já como primeiro-ministro mas também pelo crescente controlo da comunicação social russa, e da crescente pressão sobre os oposicionistas internos (partidos, organizações de direitos humanos etc.). [ver Reviver o Passado e, As Mensagens que vêm do Frio]
Mas, em termos de médio prazo, como vai ser? A economia russa e os seus oligarcas estão dependentes do ocidente, o investimento estrangeiro é vital para que a economia russa continue a crescer ora, esta crise já levou a uma substancial diminuição desse investimento e, poderá levar a sanções económicas designadamente, ao congelamento das contas dos seus oligarcas tão entusiastas de mansões, clubes de futebol, iates... a pressão interna irá também fazer-se sentir.
Esta guerra na Geórgia, sublinhou também a dependência energética da Europa (a Rússia, por seu turno precisa desta fonte de capital). O oleoduto da Geórgia era (é) uma das formas de assegurar o fornecimento de energia a partir do Cazaquistão e do Turquemenistão evitando o território russo. A Rússia é um dos maiores fornecedores de petróleo e gás à Europa. Alguns países europeus dependem na quase totalidade deste abastecimento. Os investimentos ocidentais previam que esta dependência não só se mantivesse como até aumentasse até 2030. Creio, que os acontecimentos dos últimos dias, farão os investidores pensar duas vezes antes de voltar a meter-se em aventuras com a Rússia.
No curto prazo a vitória militar da Rússia é incontestável (mesmo que também o Kosovo seja beneficiado com este “pacote”) mas, do ponto de vista político (isolamento internacional) e económico estes acontecimentos não lhe serão favoráveis.
*Tenho muita curiosidade relativamente à posição da China em toda esta questão, não só por causa da possível analogia ao Tibete mas, porque a eclosão deste conflito "em cima" dos seus Jogos Olímpicos foi um factor de distracção -muito superior a todas as manifestações / declarações - que a China dificilmente engolirá.
Ver, aqui.
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