“O eterno retorno é uma ideia misteriosa de Nietzsche […]: pensar que um dia, tudo o que se viveu se há-se repetir outra vez e que essa repetição se há-de repetir ainda uma e outra vez, até ao infinito!”
"Os crimes do Império Russo foram sempre perpetrados ao abrigo de uma discreta penumbra."Kundera
Ora, precisamente, no inicio deste século XXI a história parece estar de novo a repetir-se. A Rússia parece estar a reencontrar a sua tradição de potência expansionista e autocrática. Tradicionalmente, a política expansionista foi uma forma de conquistar novos recursos e de responder às carências da população russa. Foi nas conquistas que o poder do Krelim se alicerçou pois, trata-se sobretudo de uma resposta a problemas internos através da criação de inimigos externos, num ciclo paranóico que o período estalinista é o exemplo acabado. O trágico nisto tudo é que ao longo da história o cortejo de vítimas desta política é avassalador.
Ontem, as reminiscências da Guerra fria estiveram presentes nos discursos que marcaram a assinatura do cessar-fogo e, nas palavras do General que procurou intimidar a Polónia com o uso de armas nucleares.
Mas até em termos informativos se sentiu este regresso ao passado: de acordo com a Vesti FM (estação estatal de rádio), o que aconteceu na Geórgia, faz parte de uma conspiração elaborada por Dick Cheney, para evitar que Obama se torne presidente dos EUA … a mesma tese foi avançada pelo professor Markov, conselheiro de Putin numa entrevista. Ou seja, de novo o inimigo externo justifica a política expansionista e, muito provavelmente, assistiremos a uma restrição das liberdades civis na Rússia (o que já vem acontecendo mas agora, encontrada a justificação…). Em termos informativos, a destruição da cidade de Tskhinvali e “genocídio” (as aspas, devem-se à falta de confirmação por fontes independentes, as limitações para dos jornalistas no acesso ao terreno e o relatório da HRW levam-me a mantê-las) da sua população recebem grande destaque dos media mas, nada se diz sobre o que está a acontecer na região agora ocupada pelos russos onde as populações têm estado a ser expulsas das suas casas e têm acontecido pilhagens, fuzilamentos …
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Claro está, que a presença de jornalistas no local é incómoda. A morte de quatro jornalistas, em uma semana, prova-o. A manipulação da informação acontece de parte a parte daí a importância de informação independente.
A Gazeta Wyborcza, de hoje, em resposta às queixas de falta de objectividade por parte do embaixador russo, escrevia:
“...o nosso correspondente no Cáucaso, Wojciech Jagielski, é considerado persona non grata na Rússia e não tem acesso ao território de qualquer dos estados da CEI! O consulado russo em Varsóvia recusou dar um visa de entrada ao jornalista Wacławowi Radziwinowiczowi, embora ele esteja acreditado para trabalhar na Rússia.”
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