terça-feira, 9 de setembro de 2008

Florestas de Enganos


Duas notícias do Público aparentemente sem ligação fizeram-me pensar que actualmente é quase tão difícil ficar “detido” como ficar “retido”.
Cultivando a “floresta de enganos” da educação em Portugal, Sócrates congratulou-se com a diminuição do número de alunos retidos. Eu, ficaria igualmente satisfeita se estivesse convencida que isso corresponde a uma melhoria da qualidade das aprendizagens. Mas, não estou. A redução do número de retenções significa, simplesmente, que no curto prazo o Estado poupa dinheiro no ensino básico ao mesmo tempo que faz “boa figura” no plano das comparações internacionais. No curto prazo, esta política é vantajosa. As famílias vêem os seus filhos progredir, a escola torna-se “um sucesso”.
Foi noticiado há dias o caso de um aluno que que progrediu apesar de apenas ter tido um nível positivo (em educação física), é um caso extremo. Mas quantos outros existirão? Quantos alunos progrediram porque havia a “esperança” de os conseguir integrar em cursos CEF, que depois não se concretizaram? Que fazer, com os alunos que transitaram porque atendendo aos relatórios dos serviços de psicologia e orientação, e que, depois, não encontraram respostas adequadas nos PCA’s nos CEF’s ou, no PETI? Estes alunos irão ter um currículo “normal” mas, transitaram em condições excepcionais. A verdade é que transitaram. Estatisticamente foram casos de sucesso . Na prática foram vítimas da propaganda institucional.

No dia de hoje, é também notícia um homem baleado na esquadra de Portimão. Bom, como as coisas estão, arrisco-me a pensar que se ele tivesse optado por esperar o outro no meio da rua seria “posto em liberdade” de facto, a única maneira de garantir que seria preso é balear alguém dentro da esquadra, nas barbas da polícia. Se assim não fosse, hoje estaria a jantar tranquilamente em casa...

Mas, assim depois de ouvido pelo juíz, o autor dos disparos "vai ficar a aguardar o julgamento em liberdade, mas proibido de abandonar o concelho". Ou, seja, enquanto a vítima tem prognóstico reservado, o agressor (que disparou a frio dentro da esquadra) pode jantar "tranquilamente" no seu concelho de residência. Ora, aqui está a prova, de que tudo vai bem na Justiça portuguesa.


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"Ignorar que a Escola está doente e dar o melhor que puder aos meus alunos." ... e outras respostas de professores no Público.

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