No mesmo dia em que a U.E. procurava demonstrar unidade perante Moscovo, Putin surgia numa simbólica caça ao tigre.
Vários responsáveis politicos europeus têm referido a “humilhação” russa do pós União soviética como a justificação para a Guerra na Geórgia. O facto, de a Geórgia (entre outros Estados soberanos da região) ter deixado de estar sob a bandeira russa, de se ter tornado um país independente, de ter escolhido um regime político de tipo ocidental e de pretender integrar a EU e a NATO seriam para a Rússia uma humilhação, maior humilhação ainda o facto de o mundo se ter tornado unipolar…
Era sobre esta pretensa humilhação que gostaria de reflectir um pouco. Na sequência da II Guerra Mundial a Alemanha foi dividida e ocupada; os líderes nazis foram presos, julgados e condenados; foram proibidos os partidos de inspiração nazi bem como a utilização dos seus símbolos; a Alemanha foi obrigada a pagar reparações de guerra.
Ora, o que aconteceu na Rússia pós-soviética? Deu-se fragmentação natural de uma União que tinha sido à partida forçada mas, o coração da Rússia manteve-se intacto; os líderes comunistas foram julgados apenas pela história, não foram processados, mantiveram os seus lugares no funcionalismo público, não houve uma verdadeira “caça às bruxas”; o partido comunista e seus derivados mantiveram-se legais e a utilização dos seus símbolos nunca foi proibida; a Rússia não pagou qualquer indemnização às vítimas nem foi exigida a restituição de territórios como ilhas Curilhas...
Confiando na possibilidade de transformar a Rússia num parceiro fiável houve um investimento de mais de 55 biliões de dólares entre 1992 e 1995 (não contando com ajuda humanitária). Durante algum tempo foi ponderada mesmo a hipótese da Rússia vir a integrar a NATO. Tal hipótese foi depois abandonada mas manteve-se a cooperação a diversos níveis, nomeadamente, no sector de informações militares. Também, a sua integração no G8, decorreu da esperança de poder transformar o gigante russo num bom gigante democrático de liberal, à ocidental… e ignoraram-se os sinais. Ignoraram-se as atrocidades cometidas na guerra da Chechénia; a crescente apetência pelo controle de informação; a crescente tendência autocrática do regime; a desculpabilização e o branqueamento de crimes como a Grande Fome Ucraniana, o massacre dos oficiais polacos em Katyn, a eliminação dos dirigentes do partido comunista polaco (KPP ), em 1938 (nas vésperas do pacto Hitler-Estaline), as deportações nos países Bálticos; a reutilização do hino soviético; os novos manuais de história… todos esses sinais foram ignorados em nome dos bons negócios.
E agora falamos de humilhação. Qual humilhação?
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A Rússia, que escapou às sanções da U.E., sente-se em posição de força: mantém a ocupação de posições em solo da Geórgia e contínua a criar zonas tampão em redor da Osséssia do Sul e da Abecásia – na prática procede ao “ermamento” da região - e a impedir que os refugiados regressem. Na Ucrânia agudiza-se a crise política. Em consequência da degradação do relacionamento entre o Presidente e a primeira-ministra (acusada de ser pró-Moscovo) a coligação governamental esfumou-se. O Parlamento esvaziou o Presidente de poderes e, este ameaça, agora, retaliar com a sua dissolução. As sondagens indicam que se as eleições fossem hoje o partido do presidente perderia votos ficando sem a maioria tangencial de que dispõe.
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